sábado, 29 de março de 2008
sexta-feira, 28 de março de 2008
como o que é forçado não me sabe, prefiro ir buscar palavras a outro lado, as minhas não sei onde estão, perderam-se por outros lados, talvez tenham adormecido, ou então, desapareceram, nunca existiram, talvez me queixe do que nunca tive, antes do que pensei ter tido, ainda hoje me lembrei de algumas tão usadas, se soubesse o que sei hoje... não teria feito igual, são gastas, velhas, mas hoje, servem-me, a verdade é que agora não encho o peito para dizer que faria tudo igual, esvazio-o para dizer que se soubesse o que sei hoje... teria feito diferente, melhor, não sentiria a fome destas palavras
terça-feira, 25 de março de 2008
domingo, 23 de março de 2008
sábado, 22 de março de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
Memória
Já tive caixas e caixinhas cheias de tudo o que achei que devia guardar, coisas e coisinhas, pensava que como tinham sido importantes uma vez, continuariam a ser para sempre, guardava-as com tanto cuidado, como se isso bastasse para mais tarde agarrar um bilhete e voltar a viver a mesma viagem, até que um dia, nem sei qual, dei-me conta que não é assim, que os objectos guardados não me serviam, deve ter sido um dia em que me apeteceu, sou de apetecimentos, abrir uma das caixas e mexer em tudo o que estava lá guardado, depois de tudo bem mexido, não devo ter gostado de me lembrar de enfiada, devo ter espetado com tudo no lixo, mas sem rasgar, não devo ter gostado da dose industrial de lembranças, foi assim que deixei de dar importância aos objectos, às coisinhas, umas já nem me interessavam, não me faziam lembrar grande coisa, e outras já estavam onde deve ser, na minha memória, é ela que se encarrega de guardar o que é importante, ela e o tempo, os dois juntos fazem a gestão ideal do meu passado, de todos os meus passados, e a melhor prova que tenho disso é conseguir lembrar-me do que vivi há 20 anos como se tivesse sido há pouco e de ser capaz de me esquecer do que fiz ontem, é por isso e porque também não gosto do trabalho de guardar, que me limito nos registos, e também porque me sabe sempre tão bem quando, inesperadamente, alguém me leva atrás, ao que já tinha dado por perdido e que, afinal, estava lá, onde deve ser, gosto tanto quando alguém remexe na minha memória e me arranca um sorriso, ainda hoje me lembrei de tanta coisa, fui buscar um momento há tanto tempo, tanto, será assim tanto, e senti tudo como se fosse agora, guardei o repente e a força, o toque e o agarrar, ainda está guardado, até sei o dia, coisa estranha para uma destraída que passa os dias a esquecer-se de tudo, para quem teima em deixar tudo para a última hora e nem sequer se esforça em desenvolver a arte de fintar a distração com aqueles truques simples que vê aos outros, ainda agora, lembro-me para me esquecer já de seguida que tenho malas para fazer, o passaporte está mesmo à minha frente, desse não me vou esquecer, bato na madeira, a minha tonta superstição, a única, e nada, já sei que vou passar os últimos minutos a enfiar na mala o que me vier à vontade, faço assim porque até agora nunca me esqueci do mais importante, acabei agora mesmo de ripar os CD que comprei esta semana para enfiar no meu iPod, vão fazer-me falta em 11 horas, não me posso esquecer de amanhã comprar pastéis de Belém, ai não posso mesmo, porque me pediram, posso chegar sem eles, basto eu, boa resposta, mas gostava mesmo de não me esquecer, devia fazer agora mesmo uma lista, devia aderir aos lembretes, mas não, insisto estupidamente em confiar na minha memória caprichosa, que tanto se esquece do óbvio (ai, e o gravador), como se lembra do improvável, do que se passou naquele momento há tanto tanto tempo
quinta-feira, 20 de março de 2008
terça-feira, 18 de março de 2008
Aposta
O jogo é perigoso, já me contaram, pode tornar-se num vício, sem cuidado, no final, perde-se tudo, perdemo-nos, já me avisaram no que pode dar, mas cá para mim, o importante é ter medo, não do jogo, mas dos limites, cada um terá os seus, os meus, por enquanto, estão bem medidos, testo-os sem medo, estico até tremer e, se for caso disso, recuo, e assim vou apostando, viciada nos arrepios, há dias, fiz uma aposta de centenas, e tremi, tremo um bocadinho todos os dias, há de tudo, dias em que acho que vou ganhar, outros em que tenho a certeza que vou perder, mas já não tenho medo, já joguei, a roleta já anda, não vai parar tão cedo, o azar ainda tem muitos dias pela frente, até lá, as duas cores e os números vão correr à minha volta, a 20 de Junho vou poder fazer contas, sabendo já que, entre deve e haver, ganhará este, o meu risco compensa
Sonho
Nunca fazes aquilo que eu quero, tratas-me como se eu fosse uma escrava, vou contar até 10, um, dois, ..., vou, vou esperar por uma resposta, deves ser a única mãe que não gosta da sua filha, é, é, tu és má, MÁ... eu lá ouvia em silêncio, não sabia se ria, se chorava, decidi fechar os olhos e esperar até que adormeceu, finalmente, depois de ter acordado às três da manhã e de uma viagem de avião, de me ter pedido lanche ao pequeno-almoço, fui buscar os restos de paciência, não podia fazer outra coisa, e enquanto entretia o sono lembrei-me da sua felicidade, de me ter dito vezes sem conta que estava num sonho, da sua cara de espanto quando se cruzou com a sua Ariel, será que são mesmo verdadeiras, mamã, onde é que elas dormem, lá fui sentido os seus beijos de mil-formas, é tão meiga, dos abraços instantâneos que deu à Minnie e ao Winnie the Poo, já de olhos fechados pelo silêncio da sua respiração pausada, lembrei-me dos seus nem acredito mamã, que estamos as duas no Mundo da Disney, de como me disse, enquanto desenhava e treinava com empenho a sua assinatura, que bom que é assim, quando ninguém nos interrompe, quando ninguém te telefona do jornal para ires trabalhar, ainda fui buscar as nossas corridas, as danças em plena luz do dia nas ruas cheias de gente, as mãos quentes dadas e apertadas, de termos visto a parada debaixo de forte chuva, cada uma com a sua capa amarela, um pó de cor da loucura, do algodão doce que lhe tapava a cara, da pomme d'amour mordida a meias, da fantasia, de três dias sem computador, do tempo infinito, também deu para quase terminar o Património do Roth, continuam a cansar-me as partes sobre os judeus, mas não consigo resistir ao resto, já lá vão quatro livros seguidos, e já quase quase a adormecer, ouvia-a, tranquila, e lembrei-me de a ver, tanto, de me pasmar com o que ainda lhe falta de vida, de me orgulhar destes seis anos, de desejar como mais nada ajudá-la a crescer, de como tenho, tenho mesmo, uma filha, a minha filha, abro os olhos, puxo-a da ponta da cama, onde tinha amuado, e encosto-a a mim e antes de fechar os olhos, sinto amor, olho para os detalhes, tantas pestanas, e volto ao início, vejo-me tantas vezes
segunda-feira, 17 de março de 2008
quinta-feira, 13 de março de 2008
Até já
Sobram-me as palavras, mas falta-me o tempo, desencontros inofensivos, agora empacoto e parto para o mundo encantado do faz-de-conta, vou de alma nova, já mandei plutão passear, e vou voltar depois de passear vestida de Bela, como te prometi, serás sempre a minha Cinderela, e já me esqueci das fotografias que me pediram para entreter a frustração
quarta-feira, 12 de março de 2008
terça-feira, 11 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
Olhos
E, entretanto, só já falo por gestos, os olhos já estão bem ensinados e fazem-se de desentendidos, fingem não dar pelos ataques cerrados, mas doseados, parecem ignorar, como quem muda de assunto, tudo o que é feito só para eles, bons olhos os meus, fingidos e treinados, mas obedientes, lindos olhos os meus, que escapam ao inútil morse de uma conversa de gelatina
Não tenho nada para dizer, mas desta vez, não é porque não consiga, porque as palavras não queiram sair, é antes porque me sinto estupidamente tranquila para pensar em escrever o que quer que seja, estou tipo relaxada, aliás, é isso que este post mostra, não é mau, mas também não estou propriamente eufórica com a falta de vontade de escrever
domingo, 9 de março de 2008
Aviso
Diria que tem 45 anos e é muito, muito bonita, morena, de cabelo comprido, e uma cara linda, o baton vermelho verdadeiro acentuava ainda mais os traços simples e tão verdadeiramente melodiosos, a L. dizia-me que o D. era "muito inteligente, demasiado inteligente", rimo-nos, o D. é sérvio, conheceram-se há muitos, muitos anos, tiveram um caso, às tantas, contava-me a L., "os papéis estavam a expirar , ele precisava e pediu-me em casamento. Eu aceitei. Foi meio a brincar, também só assim é que eu me casava", e depois disso já lá vão 16 anos e "dois filhos maravilhosos", e o D. com o seu sotaque estranho lá ia matando saudades da língua-materna com uma amiga enquanto a L. agradecia, muito a sério, enquando lhe dizia que elas tinham razão quando me tinham dito que era muito bonita, "Obrigada, estava mesmo a precisar de ouvir isso, há tanto tempo que não me diziam nada disso", e eu sorria e estranhava, que raio, seria possível em tanto tempo ninguém lhe ter dito que era bonita, e o D., será que já não reparava, "Não, o D. é demasiado inteligente", tinha-me dito a L., meio a sério, meio a brincar, acho que alguém devia avisar o D. que a L. continua muito bonita
quarta-feira, 5 de março de 2008
E agora estava na praia, só ouvia o barulho do mar, completamente esticada de barriga para cima, sentia só o sol da tarde a aquecer-me a pele e uma brisa leve, que aparece à chamada, uma combinação perfeita que amacia, e os dedos dos pés e das mãos na areia, fininha, e o tempo a sobrar e o corpo a levantar
terça-feira, 4 de março de 2008
Sentir
Não sei o que é, amor não pode ser, o tempo já me ensinou, digo eu, que o amor é raro, não é súbito, desconfio do género à-primeira-vista, e que para ser é preciso muito, mesmo muito mais, paixão também não me parece, essa deixa-nos tontos, embasbacados, esquecidos do mundo, e também quero acreditar que o tempo vai doseando a mistura química que faz saltar a cabeça do corpo, atracção, é possível, é mais simples e frequente, mas como vem, também vai, e como esta já se está a demorar, temo que também não seja por aqui, sexo, sim, pode ser, mas aqui, dizem as inúmeras teorias, que quem manda é o corpo, se assim é, também não pode ser, a vontade não seria sempre igual, de facto, não deve ser, não encontrei a resposta, nesse caso, os olhos não pediriam sem ver, e a teimosia, bem essa é uma carga de trabalhos, é caprichosa, insistente e, em dose inteira, tarda a passar, mas aí, suspeito eu, não cabem sonhos, só o orgulho ferido, a frustração de não ter, e, por isso, penso, penso sem sair do mesmo lugar, sem conseguir explicar o que sinto, porque alguma coisa devo sentir, não sei é o quê, nem é sempre igual, vai mudando entre o bold e o itálico, um tipo de letra que não gosto nada, meio inclinado, com a mania que tem estilo e que só serve para apertar as letras umas contra as outras, aliás, só por causa disso, vou acabar com ele, não é preciso chamar a atenção, já me dizias que isso era uma estupidez, que raio de atenção é essa que precisa de ser chamada, mas de volta ao que sinto, sentirei alguma coisa, se não sentisse não gastaria palavras à procura do sentimento, mais uma vez, tem sido assim, será o tempo, sem pressa, não é preciso correr, não me posso esquecer disso, será o tempo a explicar-me o que se passa, se sinto ou não, se já me habituei à ditadura do sentimento, tenho tantas vezes esta dúvida, pode sentir-se nada e pensar que esse nada é alguma coisa, pode a ilusão mascarar de amor, ou do que quer que seja, uma simples vontade de sentir
segunda-feira, 3 de março de 2008
Flor
Só agora, no mês da Primavera, é que aquela flor começou a fechar, devagarinho, fui notando, uma pétala de cada vez, imagino que se tenha cansado de tanto sol e tenha decidido descansar um pouco, certa que a luz não irá faltar, calculo que esteja com sono, a meiguice deste Inverno não a deixou descansar, ou então, que alguma rega menos certeira a tenha obrigado a recolher, não sei, mas aquela flor já não está assim, espalhada, a sua forma está a mudar, aquela flor está quase um botão
domingo, 2 de março de 2008
Degelo
Três fins de semana seguidos de magia do teatro, o brilho dos teus olhos, a atenção permanente e a tudo, a boca aberta de espanto e de deslubramento, e à custa das nossas bochechas, o teu sossego ao meu colo que só é interrompido quando me pedes costinhas, nunca é assim com o cinema, tanta magia quase consegue quebrar o gelo que trazes, bebido sem vontade onde ainda há tanto frio, feito por quem, afinal, ainda não te consegue aquecer o coração e não te suaviza as mudanças de clima, mais tarde, já passou, a água quentinha do banho já te mostrou que por aqui só existe calor, muito, chega para te aquecer e sobra para te tentar convencer que não chegaste de nenhuma terra distante, que o sol brilhou, depois de umas framboesas, já dormes, no quentinho da nossa cama, só hoje, já passou, o frio já passou
sábado, 1 de março de 2008
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Dia
Mas tu também vens?!, disse-lhe quando o viu dentro do carro a aproximar-se, Claro que sim! Porque é que achas que não iria?!, já tinham passado uns quantos dias, tinham estado próximos, mas ela nunca se tinha dado conta, olhava sempre para o mar, para os olhos dos miúdos, estava longe, só naquele instante viu que ele também ia, foi apontando para terra e aproximou-se, pouco, e sem se dar conta, percebeu que ele já lá tinha estado e que também ia, quando voltaram, ela nunca lá tinha estado, tinha, mas não se deu conta, só guardou um Fica bem... de garganta apertada e uns olhos brilhantes, mas guardou tudo bem guardado, sem saber onde, mas o que guardou bastou-lhe para perceber que voltariam, qualquer dia, um dia, e sim, depois de dias e mais dias, ela voava, sem saber muito bem porquê, para o pé dele, num dia parado, em que nada se passava, acabaram por voltar, andaram e andaram sem parar, já sabiam para onde, mas parecia que não, fazia-se tarde, estava tudo a fechar e não havia nada para fazer, pouco mais, cansados de tanto andar, acabaram por se abrigar, já era tão tarde, ela ainda se lembra do brilho do ouro e da força das ondas, do mar remexido e de uma lua enorme que apetecia apertar, que os olhos não conseguiam largar, sem avisar, de repente, a luz apagou-se, ainda hoje não se sabe porquê, não se avistava uma única nuvem naquele céu limpo, não se escutava sequer o murmurar do mar, estava tudo tão parado, os ombros descaídos e os braços esticados rendiam-se aos dias que, mais dia menos dia, os faria voltar, tantos dias que já se passaram, tantas histórias imaginadas, tanto tempo sem saber do próximo dia, os dias tardam mas não faltam, não avisam, mas chegam, afinal ele também foi e ela também vai, sem saber se será o mar que vai olhar, nas ondas é tudo mais simples, sempre uma a seguir à outra, não sabem se vão continuar a andar sem parar, ou se vão poupar as pernas e voltar ao abrigo, sem aquele barulho despejado para o ar, será que a lua vai deixar e a maré vai subir, outro dia, um dia, os dias vão passar
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Presunçosa
Não quero saber do que pensam, do que dizem, do que comentam e do que inventam, já dei importância a isso tudo, já lá vai o tempo em que me vestia e despia vezes sem conta antes de sair de casa, sempre na dúvida sobre se tudo me assentava bem, via-me vezes sem conta ao espelho, em diferentes posições, corava com as indirectas e magoavam-me as directas, tinha medo das borbulhas, não me conhecia, ainda construia sem saber a minha auto-estima, hoje, a naturalidade com que me visto e com que me dispo é quase a mesma, conheço todos os cantos de mim, sei qual é o meu melhor lado e percebo os meus defeitos, cultivo alguma auto-indulgência, porque quero, e faço questão de não me esconder, quase nunca, ou seja, estou-me perfeitamente nas tintas para quem não conheço e para quem não me interessa, estes são cada vez mais, posso parecer vaidosa ou presunçosa, talvez seja muito cheia de mim, mas ainda bem, é assim que me quero, insuportavelmente ácida para quem me irrita e absolutamente doce para os que me encantam, não sou de meias-tintas, enfastia-me o meio termo, o nem preto, nem branco, cansam-me os que demoram a decidir, os que vivem para agradar a gregos e troianos, os que têm sempre opinião sobre tudo e os que nunca se comprometem, os que vivem em silêncio com medo de perguntar, os que não arriscam e ainda por cima perdem tempo a imaginar o que poderia ter sido e não foi, enfim, hoje estou muito ácida, azeda não, ácida e cansada de tantos detalhes e pormenores que animam as vidas de gente desinteressante, daqueles a quem não faço, sequer, o favor de ser simpática, daqueles a quem só dou bom dia quando não me esqueço da educação, há dias assim, que chegam ao fim sem paciência, só me resta a força para te beijar e cheirar, para te agarrar e falar enquanto respiras de sono, para te ouvir, porque me respondes, para te aquecer, há dias, tantos, em que me encontro sozinha contigo e descanso cheia de nós
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Lésbicas
Temos, sempre tivemos, montes de beijinhos, os bochecha, os esquimó, os bombástico, os bombom, e mais, e os beijinhos-segredo, guardados para o adormecer e, às vezes, para as despedidas no colégio, é um toca-e-foge de lábios, sempre tivemos, e há pouco, ao deitar, a história repetiu-se como sempre, mas a conversa foi inédita:
- Ai, mamã [risos], parecemos lésbicas!
- [Aiiii!?] A sério? Porquê?
- Não sabes o que são lésbicas e, ai, reis...
- Gays.
- Isso. Gays são homens que namoram com homens e lésbicas são mulheres que namoram com mulheres.
[Achei que era momento para lhe explicar que mãe e filha nunca serão namoradas e que, por isso, nunca serão lésbicas, que o amor que sentem é diferente, e o que virá a seguir?!]
- Ai, mamã [risos], parecemos lésbicas!
- [Aiiii!?] A sério? Porquê?
- Não sabes o que são lésbicas e, ai, reis...
- Gays.
- Isso. Gays são homens que namoram com homens e lésbicas são mulheres que namoram com mulheres.
[Achei que era momento para lhe explicar que mãe e filha nunca serão namoradas e que, por isso, nunca serão lésbicas, que o amor que sentem é diferente, e o que virá a seguir?!]
sábado, 23 de fevereiro de 2008
O Sexo e a Cidade
Quatro amigas bonitas, inteligentes, maduras e independentes, diria mesmo perfeitas, à volta de uma mesa, entretidas a bebericar um bom tinto, acabaram, algumas garrafas depois, a falar de homens e de tudo o que isso representa, amor, paixão, sexo e muito mais, muita conversa deitada fora e tantas gargalhadas depois, sai-se para o meio do temporal, de cabeça já lavada, porque somos encantadoramente complexas
Pitas
- Mamã, sabes o que são pitas?
- [glup] Não, o que são?
- São meninas que fazem tudo o que os outros querem, que fazem tudo o que os pais mandam, que, como é que te hei-de explicar, são meninas que querem ser perfeitas.
- [pausa] Ah! E isso é mau?
- É. É só a minha opinião mamã. É estranho isso da perfeição total.
- [????] Pois, se calhar tens razão. Talvez não seja bom ser completamente perfeito, mas também não é bom ser-se muito errado, nem 8, nem 80, não achas?
- Sim, sim, mamã...
[E o que é que eu faço ao meu amor-perfeito, que sente à seis anos e pensa à oito? Espeto já com ela no terceiro ano do primeiro ciclo porque demora um minuto a fazer o que os outros fazem em dez - sobram nove para fazer merda -, ou deixo-a no primeiro ano a pedir mimos e a fazer beicinho quando lhe desmancham os bonecos de plasticina?]
- [glup] Não, o que são?
- São meninas que fazem tudo o que os outros querem, que fazem tudo o que os pais mandam, que, como é que te hei-de explicar, são meninas que querem ser perfeitas.
- [pausa] Ah! E isso é mau?
- É. É só a minha opinião mamã. É estranho isso da perfeição total.
- [????] Pois, se calhar tens razão. Talvez não seja bom ser completamente perfeito, mas também não é bom ser-se muito errado, nem 8, nem 80, não achas?
- Sim, sim, mamã...
[E o que é que eu faço ao meu amor-perfeito, que sente à seis anos e pensa à oito? Espeto já com ela no terceiro ano do primeiro ciclo porque demora um minuto a fazer o que os outros fazem em dez - sobram nove para fazer merda -, ou deixo-a no primeiro ano a pedir mimos e a fazer beicinho quando lhe desmancham os bonecos de plasticina?]
CtrlAltDel
Há palavras que são ditas que dificilmente esqueço, não interessa porque foram ditas, se são verdade, se saíram enviesadas, a verdade é que são tão fortes que é raro não me apanharem, primeiro sinto-as a cair no estômago e depois acabam por entrar, não sei bem por onde, até subirem, e lá acabam por ficar, estas palavras são importantes, beliscam-me as entranhas para me avisar, para me chamar a atenção que, como toda a gente, nasci com cinco dedos em cada mão e que, no final, mesmo que tente esconder o mindinho, eles serão sempre cinco, jamais cortá-lo para satisfazer caprichos, e é só isso que deve contar quando me perguntam com quantos dedos escrevo o que fui e o que vou sendo, e agora, começo a pensar no uso que lhes dei ontem, lembro-me que apaguei palavras mal construídas, sem alinhamento, que me contrariavam, e senti que comecei a limpar as estantes dos livros que me ofereceram e que nunca irei ler, alguns com capas tão bonitas, que me enfeitam e enchem o móvel, que me fazer sentir na minha biblioteca, mas que nunca passarão de uns monos, não servem para nada, por mais que queira, já tentei, nem sequer servem para voltar a ser oferecidos, e que importantes são estas palavras ditas, já nem sei bem quando, porque me vão lembrando do que quero, porque me encaminham mesmo quando por vezes acho que não tenho os cinco dedos, são cinco, mesmo cinco, numa só mão, e agora conto-os, para que não restem dúvidas, e, a partir de hoje, vou contar todos os dias, se precisar, mais do que uma vez, mindinho, irmãozinho, pai-de-todos, fura-bolos e polegar, para ver que estão lá todos, que não me posso esquecer de nenhum, um dia de cada vez, até não precisar mais de os contar, são tão úteis, são pequenos mas dão vida à minha mão, são eles que transmitem a minha paixão, que mexem e tocam, que abrem as janelas para deixar o sol entrar, de propósito, sempre que me garantem que hoje os dias já são menos brilhantes, que o que vejo são só meros reflexo da minha imaginação, que grande mentira, eu não gosto desse desencanto e, é certo e sabido, que as minhas duas mãos servirão sempre para empurrar aqueles que me queiram convencer que o céu não é azul, é antes um cinzento azulado, são palavras, dedos e mãos, o tanto que tenho para me abrir os olhos e ver, basta ver
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Que cena
Que esquisito, vi de raspão, mas consegui dar-me conta da secura e da amargura e do braço, forçado a puxar-te, tão estranho, senti pena, não devia, mas senti, e depois vi a velocidade com que procuraste o que te liberta, o que te faz rir e sentir vivo todos os dias, a vontade de contar, partilhar e ouvir, de trocar delícias e viver sem nós, entravas e saías para voltar logo a seguir, ias por obrigação, voltavas porque te querias esquecer dos deveres, e lá saltitavas indeciso entre o querer e o poder, tive pena, mas não devia, tudo somado, a verdade é que não se pode querer entreter a vida só com palavras e olhares meigos cheios de promessas, não chega, lembras-te, tu sabes melhor que ninguém o custo do risco
Amiga
Hoje ligou-me a minha amiga C. que já não vejo para aí há uns bons dez anos, são só 300 quilómetros a separar-nos, mas a fdp da vida dá nestas coisas, fiquei tão feliz, senti logo saudades, falámos das nossas vidas, do que mudou, reconhecemos as nossas vozes, estão iguais, dissemos quase em uníssono, recordámos dias e noites em Alfama, a ida para o jornal, tarde e más horas, depois de noites agitadas, o rasto de perfume por entre os becos onde as peixeiras faziam pela vida, os jantares de banana com chèvre acompanhada com vinho, o meu bate-cú nos degraus de meio metro cada quando decidi ir buscar um saca-rolhas à vizinha de baixo, meias e madeira não são particularmente aderentes, a C. tem fotos de há 16, ou 17 anos, de nós no nosso quarto de Alfama, acho que ainda lá consigo ir dar, de nós, mais tarde, já na minha casa do lindo palacete da José Dias Coelho, de tantos momentos gostosos e de tanta amizade, apeteceu-nos atalhar caminho e esquecer a auto-estrada, mas não podia ser, mas já temos data, que bom que a C. ligou e interrompeu o meu estado de exaustão, o corpo já nem reage ao despertador, coisa rara, hoje nem dei pelo chinfrim, algo me diz que estou a precisar de dormir e muito
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Narciso
Tudo ou nada tentar de tudo para não ficar sem nada foi isso foi pois nem uma palavrinha conseguias dizer ouvias as minhas palavras quais palavrinhas não me esqueci de uma única letra que vontade tinhas de virar as costas mas não lá conseguiste aguentar todas não me faltou nenhuma pois foi é a fuga para a frente o esconder debaixo do tapete dá nisto agora simples não é agora é mesmo agreste agora há um tapete que não sai do sítio ali está sempre a tapar e por debaixo o que se quer esconder pois é mas não é simples é no que dá pensar que nada se passa para que o tudo não se estrague e agora nunca mas mesmo nunca guardaste bem esta nunca me peças para te ajudar a levantar o tapete ele nem sequer é meu enrola-o vira-o faz o que te apetecer mas nem me digas nada só gosto de tacos bem limpos que se pisam que nos mostram um puzzle de madeirinhas encaixadas numa desconcertante perfeição é assim é no que dá a vida de quem se esconde na sombra de quem se esquece que a terra gira e o sol não tapa tudo amanhã bem podias falar só 10 minutos nem mais um agradecer e pensar em comprar uma vassoura é que por cá os tapetes ainda não voam olha amanhã sabes bem o tapete vai estar à porta e eu pisarei cada passo como se ele nem existisse e nunca se sabe imagina que entretanto há um grãozinho pequenino que se escapa imagina só o pó que pode fazer já sabes eu nao aspiro nada o melhor é começares a tratar de arranjar uma vassoura não percas nem mais um minuto os 10 podem ser muitos
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Dias
Há pelo menos duas maneiras de enfrentar um desafio, uma não fazer nada, outra fazer tudo, prefiro esta, sempre, mesmo que me canse muito, mesmo que, no final, nada se resolva, insisto, persisto, massacro, é isto que faço todos os dias, que grande trabalheira
Umbigo?
Um filme, um cigarro e uma chávena de chá, a manta azul, nada mais, e, se pudesse escolher, entre todas as pessoas do mundo, hoje, era a ti que queria ao meu lado.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Curtas (2)
- Era preciso chover assim tanto, logo na segunda-feira, para que ao meio-dia parecesse quase noite?
- Tinha que me irritar com uma persistente e inútil resistência passiva e ter que chamá-la à razão como se faz com as crianças?
- Tinha que me chatear porque não gosto de me irritar?
- Tinha que ler palavras erradas e perceber que não me entendem?
- Era preciso estar tão sensível logo hoje, segunda-feira?
- Tinha que me irritar com uma persistente e inútil resistência passiva e ter que chamá-la à razão como se faz com as crianças?
- Tinha que me chatear porque não gosto de me irritar?
- Tinha que ler palavras erradas e perceber que não me entendem?
- Era preciso estar tão sensível logo hoje, segunda-feira?
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Tempo (2)
E é o tempo que me prende, são os relógio, espalhados por todo o lado, que me atam, são os ponteiros que me sufocam, que me fazem levantar quando o que me apetece é enroscar-me no calor da cama, que me obrigam a dormir quando não quero, que me dizem que tenho que comer, quando nem sede tenho, e que me disparam ordens a torto e a direito, se pudesse pedir um desejo, esfregava a lâmpada e pedia ao Génio que o tempo parasse onde eu quisesse, e que as horas só voltassem a correr quando eu mandasse, e agora, dou por mim a pensar que, se pudesse, já teria partido todos os relógios à minha volta, não me daria por contente só com um desligar, não, não tenho pena deles, nem qualquer tipo de sentimento bom, talvez optasse por arrancar os ponteiros, com um sorriso cínico, e assim, lá ficava eu, solta para parar onde e quando quisesse, livre para fazer tudo o que o tempo me tira, pronta para me cansar do tempo, porque é disso que preciso, de me fartar do tempo, faltam-me os minutos lentos e molengões, espero para me esquecer do tempo, peço para dar por ele a passar, devagarinho, suavemente, em biquinhos de pés, com medo de me acordar, é só um desejo, matar tempo até não poder mais, por uma vez, ser eu a mandar
Tempo (1)
Dor-de-cabeça e ar murcho, logo à porta, um beicinho enternecedor, talvez fosse febre, mas nada disso, não precisava, mas tirei teimas ao pegar-te ao colo e dar-te um beijo para te medir a temperatura, conheço tão bem os teus 36,4 graus, não te doía nada, o que te faltava era só o colo e o mimo dos meus braços, era do meu tempo que precisavas, dizem que é pouco, até pode ser, mas é dele que tu gostas, podia ser mais, mas é ele, mesmo que seja curto, que te cura tudo, é o meu teu tempo que tu queres, nós sabemos que o tempo é aquilo que se faz dele, seja muito ou pouco, e cada um só sabe do seu, de mais nenhum, o nosso é muito, é muito bom
Subscrever:
Mensagens (Atom)