segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Esquecimentos II

Vou fingir que tudo corre sobre rodas, que o mundo não ameaça cair-me em cima, porque, admito, começo a ficar cansada de pensar, quanto mais de escrever, nos contratempos, vou chamar-lhes assim, que teimam em saltar nem sei bem de onde, tipo coelhos da cartola de um mágico, vou fingir que não choveu e que o Inverno, afinal, não se esqueceu que existe e vou tentar lembrar-me só do lado positivo dos meus últimos dias, lembrar-me que já marquei a festa do sexto aniversário da minha filha, que crescida está, que ainda cheguei a tempo de lhe dar um beijo de boa noite, que amanhã vou ver um grande compositor e ouvir músicas e letras brilhantes, que, afinal, ao contrário do que supunha, até consegui trabalhar e saí com a sensação de dever cumprido, que, apesar de me ter esquecido de comprar leite, ainda tenho uns pacotes de leite com chocolate para o pequeno-almoço de amanhã, que consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo e que, apesar de não ter uma mãe que me descasque romãs, como uma querida amiga minha, ainda tenho mãe e que, apesar de não me lembrar do seu colo, ainda vou sendo capaz de a ajudar nas partidas que ela e a vida, justiça lhe seja feita, me vão pregando, vou lembrar-me que o presente e o futuro não apagaram todo o passado, ainda bem, e não me vou esquecer que amanhã vou acordar e encontrar o sorriso mais lindo que alguma vez vi, que é melhor que venha tudo de uma assentada, antes do merecido descanso...

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