sábado, 12 de janeiro de 2008

Brilho

Até a pepita do ouro nativo deixa de brilhar se for largada esquecida numa gaveta fechada a sete chaves, fica baça, a cor apaga-se, de pouco serve saber que ela está lá, mas não a espreitar, nem afagar, nem que seja só de vez em quando, não há pedra, por mais preciosa, que resista ao descuido, e como certos tesouros não se doam, nem em testamento, porque mais ninguém os estima, quando se desconfia da sua utilidade, o melhor é mesmo enterrá-los sem demoras, rasgar o mapa em mil pedaços, esquecer de vez o brilho e viver tranquilamente desagarrado das coisas especiais, olhar para um céu e não procurar a estrela mais bonita, nem pensar em roubar a mais cintilante à custa de um buraco no céu, vê-las todas iguais, meros pedaços de lata, parar e apagar para sempre a vocação de garimpeiro, talvez os olhos passem a brilhar

1 comentário:

S. disse...

Saber cuidar dos tesouros mas também transformar em tesouros as pedras mais banais!