sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Tempo
No dia 25 de Dezembro de 1994, passei pelo Largo e dei por ti, mal encostado ao muro, à porta da farmácia, talvez o sítio te tivesse parecido conveniente, a manhã já ia alta, estavas atirado, não te deves ter mexido deste que aterraste, era a primeira vez que me cruzava contigo, lembro-me do nó na garganta, não era justo, tanto desamparo logo no dia de Natal, nunca mais te deixei de ver, fizeste do Largo e arredores a tua casa, a barba grande, o cabelo também, uns dias mais, outros menos, a garrafa de vidro verde na mão, tantas vezes, outras, uma de plástico transparente cheia de tinto, alguns dias alegre, não sei se apenas à custa do álcool, habituei-me a ti, sempre por ali, muito na tua, imaginei a tua história, não foste parar ao Largo por acaso, hoje, tantos anos depois, voltaste a passar à minha frente enrolado em cobertores, os anos passaram e tu pelas mesmas ruas, a tua casa, o mesmo nó, tanto tempo, o mesmo desamparo
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