sábado, 11 de agosto de 2007

Férias I

Ainda a consigo ouvir, saiu agora, vão de férias, uma semana, e não consigo evitar as lágrimas. Vou sentir a sua falta, não é a primeira (as rodas descem o passeio) que fico sem ela, mas desta vez é diferente (já não ouço o motor). Adeus mamã, repetiu vezes sem conta à porta do elevador, segurou no sensor para me poder mandar tantos beijinhos à princesa, que aprendeu há dias, e eu apertei, segurei tudo e mantive o sorriso mais rasgado e natural que só uma mãe sabe fazer, sobretudo, quando tem que ser. Quando lhe contámos que os pais iam viver em casas separadas, a sua primeira reacção foi de contentamento, tudo iria ser como com a sua amiga Rebeca, teria duas casas e dois quartos, mas depois, chegou ao pé de mim e com a carinha tristinha disse-me "Mamã, tenho uma preocupação, o papá vai dormir sozinho e eu não quero", e começou a chorar, "Não quero que vocês deixem de ser namorados!", "Já sei, já sei que fica tudo igual, já me disseste, mas eu não consigo não ficar preocupada". Enfim, por mais que tente tranquilizá-la, não vou conseguir porque ela já sentiu que o elo mais fraco é o pai e é isso que a preocupa. Que amor, que bom é ter a minha filha. Quando tudo parece correr mal, há sempre uma luz que me guia.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Não

Não, não iria continuar a ser assim, nesse momento, percebi que já nada voltaria a ser como antes. A questão estava, agora, em encontrar a fórmula mágica para acabar com tantos anos de uma vida normal, mas boa, como gerir mágoas, sofrimentos, partilhas, como nos encaminhar para o final menos mau. Nada fácil, pelo menos para mim. O meu instinto precipitou o afastamento, o distanciamento, a ausência, que se instalaram comodamente, como se fossem da casa, na minha, na nossa vida. Conscientemente, comecei a ir-me embora, aos poucos, ainda que a vontade fosse fugir, evaporar-me num minuto, como fazem as fadas, plim! As noites a pensar, a ouvir música, o pensamento sempre mais entretido com as novas aventuras aliviavam o confronto com a realidade, cada vez mais difícil.

Até que, numa noite, dei por mim a correr, com uma pressa para falar. Expliquei o que se passava, o que sentia e que queria ficar sozinha. O choque, a surpresa toldaram-lhe o raciocínio e tive de explicar melhor. Não tive alternativa, afinal, levava uns meses de avanço. Chorei como se fosse eu que estivesse a ouvir, doeu muito mas, no final, quando encerrámos o primeiro capítulo, deitei a cabeça na almofada e senti-me um pouco mais aliviada. Afinal, estava a fazer o que devia.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Viagem

Quantas vezes me lembro de pensar e até dizer "Apanhava agora mesmo um avião para qualquer parte do mundo!!". A seguir batia logo na madeira porque não conseguia evitar o sentimento de culpa por estar cansada do meu filho que adoro e do meu marido, que amarei toda a vida.
Não tive que esperar muito, quando dei por mim já estava enfiada no avião. Destino traçado e a vontade de forçar o destino, que anda tão simpático comigo, sempre pronto para me fazer as vontades.
Voltei pior, cada vez mais preocupada.

Turbilhão

A minha cabeça passou a viajar e o esforço que fazia para regressar à terra era enorme. Não queria estar ali, mas também não conseguia perceber muito bem para onde poderia ir, nem porquê. Faria sentido deixar uma vida normal, mas boa, que metade das mulheres invejaria, por uma vida incerta e solitária? Não sabia. Só sabia que estava vulnerável e disponível e muito, para sentir. Por uma vez, este meu estado só não se revelou um sarilho porque à última da hora o bom-senso, esse meu amigo que afinal não me abandonou, imperou. Dessa vez, fiquei sem qualquer réstea de dúvida. Continuaria a montar esquemas e esquemazinhos que me levassem a pisar o risco. Tudo é tão mais fácil depois de o pisar pela primeira vez. Pressenti que se fosse por esse caminho, só iria arranjar mais ar para encher o buraco cada vez maior.