quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cleópatra

Não tenho dedal, é verdade avó, ainda hoje empurro a agulha sem aquele anel, o teu não fechava, deixava a ponta do pai-de-todos destapada, fazia-te confusão como é que eu não sentia falta do metal para ajudar, ontem voltei à costura, não por gosto, sabes bem, mas porque não tinha alternativa, a tua bisneta ia fazer de egípcia e eu não tive outro remédio, passei a noite a tentar lembrar-me dos teus gestos, da tua destreza, e, sem me dar conta, cosi e cosi, o disfarce ficou pronto, hoje de manhã, a tua bisneta foi a rainha, sei que concordas comigo, não tenho dedal, avó, mas continuo a ter a vista que te faltava e que te fazia pedir-me, tantas vezes, para te enfiar agulhas

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