sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Há palavras que são ditas que dificilmente esqueço, não interessa porque foram ditas, se são verdade, se saíram enviesadas, a verdade é que são tão fortes que é raro não me apanharem, primeiro sinto-as a cair no estômago e depois acabam por entrar, não sei bem por onde, até subirem, e lá acabam por ficar, estas palavras são importantes, beliscam-me as entranhas para me avisar, para me chamar a atenção que, como toda a gente, nasci com cinco dedos em cada mão e que, no final, mesmo que tente esconder o mindinho, eles serão sempre cinco, jamais cortá-lo para satisfazer caprichos, e é só isso que deve contar quando me perguntam com quantos dedos escrevo o que fui e o que vou sendo, e agora, começo a pensar no uso que lhes dei ontem, lembro-me que apaguei palavras mal construídas, sem alinhamento, que me contrariavam, e senti que comecei a limpar as estantes dos livros que me ofereceram e que nunca irei ler, alguns com capas tão bonitas, que me enfeitam e enchem o móvel, que me fazer sentir na minha biblioteca, mas que nunca passarão de uns monos, não servem para nada, por mais que queira, já tentei, nem sequer servem para voltar a ser oferecidos, e que importantes são estas palavras ditas, já nem sei bem quando, porque me vão lembrando do que quero, porque me encaminham mesmo quando por vezes acho que não tenho os cinco dedos, são cinco, mesmo cinco, numa só mão, e agora conto-os, para que não restem dúvidas, e, a partir de hoje, vou contar todos os dias, se precisar, mais do que uma vez, mindinho, irmãozinho, pai-de-todos, fura-bolos e polegar, para ver que estão lá todos, que não me posso esquecer de nenhum, um dia de cada vez, até não precisar mais de os contar, são tão úteis, são pequenos mas dão vida à minha mão, são eles que transmitem a minha paixão, que mexem e tocam, que abrem as janelas para deixar o sol entrar, de propósito, sempre que me garantem que hoje os dias já são menos brilhantes, que o que vejo são só meros reflexo da minha imaginação, que grande mentira, eu não gosto desse desencanto e, é certo e sabido, que as minhas duas mãos servirão sempre para empurrar aqueles que me queiram convencer que o céu não é azul, é antes um cinzento azulado, são palavras, dedos e mãos, o tanto que tenho para me abrir os olhos e ver, basta ver

1 comentário:

S. disse...

Parece-me que enquanto te guiares por esses cinco dedos não irás ter grandes desilusões.É o que penso, eu que também tanta importância dou às palavras ditas ou escritas...