terça-feira, 18 de março de 2008

Sonho

Nunca fazes aquilo que eu quero, tratas-me como se eu fosse uma escrava, vou contar até 10, um, dois, ..., vou, vou esperar por uma resposta, deves ser a única mãe que não gosta da sua filha, é, é, tu és má, MÁ... eu lá ouvia em silêncio, não sabia se ria, se chorava, decidi fechar os olhos e esperar até que adormeceu, finalmente, depois de ter acordado às três da manhã e de uma viagem de avião, de me ter pedido lanche ao pequeno-almoço, fui buscar os restos de paciência, não podia fazer outra coisa, e enquanto entretia o sono lembrei-me da sua felicidade, de me ter dito vezes sem conta que estava num sonho, da sua cara de espanto quando se cruzou com a sua Ariel, será que são mesmo verdadeiras, mamã, onde é que elas dormem, lá fui sentido os seus beijos de mil-formas, é tão meiga, dos abraços instantâneos que deu à Minnie e ao Winnie the Poo, já de olhos fechados pelo silêncio da sua respiração pausada, lembrei-me dos seus nem acredito mamã, que estamos as duas no Mundo da Disney, de como me disse, enquanto desenhava e treinava com empenho a sua assinatura, que bom que é assim, quando ninguém nos interrompe, quando ninguém te telefona do jornal para ires trabalhar, ainda fui buscar as nossas corridas, as danças em plena luz do dia nas ruas cheias de gente, as mãos quentes dadas e apertadas, de termos visto a parada debaixo de forte chuva, cada uma com a sua capa amarela, um pó de cor da loucura, do algodão doce que lhe tapava a cara, da pomme d'amour mordida a meias, da fantasia, de três dias sem computador, do tempo infinito, também deu para quase terminar o Património do Roth, continuam a cansar-me as partes sobre os judeus, mas não consigo resistir ao resto, já lá vão quatro livros seguidos, e já quase quase a adormecer, ouvia-a, tranquila, e lembrei-me de a ver, tanto, de me pasmar com o que ainda lhe falta de vida, de me orgulhar destes seis anos, de desejar como mais nada ajudá-la a crescer, de como tenho, tenho mesmo, uma filha, a minha filha, abro os olhos, puxo-a da ponta da cama, onde tinha amuado, e encosto-a a mim e antes de fechar os olhos, sinto amor, olho para os detalhes, tantas pestanas, e volto ao início, vejo-me tantas vezes

1 comentário:

S. disse...

Eu tb voltei ao início...muitas vezes...até esgotar em mim todas as emoções que senti por trás destas palavras.
Bjo*