sábado, 29 de março de 2008

sexta-feira, 28 de março de 2008



como o que é forçado não me sabe, prefiro ir buscar palavras a outro lado, as minhas não sei onde estão, perderam-se por outros lados, talvez tenham adormecido, ou então, desapareceram, nunca existiram, talvez me queixe do que nunca tive, antes do que pensei ter tido, ainda hoje me lembrei de algumas tão usadas, se soubesse o que sei hoje... não teria feito igual, são gastas, velhas, mas hoje, servem-me, a verdade é que agora não encho o peito para dizer que faria tudo igual, esvazio-o para dizer que se soubesse o que sei hoje... teria feito diferente, melhor, não sentiria a fome destas palavras

não sei onde andam as palavras... a imagem possível da voz de beth gibbons e do som dos portishead ... wandering stars

terça-feira, 25 de março de 2008

Janela

















ontem e amanhã

domingo, 23 de março de 2008

sábado, 22 de março de 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

Memória

Já tive caixas e caixinhas cheias de tudo o que achei que devia guardar, coisas e coisinhas, pensava que como tinham sido importantes uma vez, continuariam a ser para sempre, guardava-as com tanto cuidado, como se isso bastasse para mais tarde agarrar um bilhete e voltar a viver a mesma viagem, até que um dia, nem sei qual, dei-me conta que não é assim, que os objectos guardados não me serviam, deve ter sido um dia em que me apeteceu, sou de apetecimentos, abrir uma das caixas e mexer em tudo o que estava lá guardado, depois de tudo bem mexido, não devo ter gostado de me lembrar de enfiada, devo ter espetado com tudo no lixo, mas sem rasgar, não devo ter gostado da dose industrial de lembranças, foi assim que deixei de dar importância aos objectos, às coisinhas, umas já nem me interessavam, não me faziam lembrar grande coisa, e outras já estavam onde deve ser, na minha memória, é ela que se encarrega de guardar o que é importante, ela e o tempo, os dois juntos fazem a gestão ideal do meu passado, de todos os meus passados, e a melhor prova que tenho disso é conseguir lembrar-me do que vivi há 20 anos como se tivesse sido há pouco e de ser capaz de me esquecer do que fiz ontem, é por isso e porque também não gosto do trabalho de guardar, que me limito nos registos, e também porque me sabe sempre tão bem quando, inesperadamente, alguém me leva atrás, ao que já tinha dado por perdido e que, afinal, estava lá, onde deve ser, gosto tanto quando alguém remexe na minha memória e me arranca um sorriso, ainda hoje me lembrei de tanta coisa, fui buscar um momento há tanto tempo, tanto, será assim tanto, e senti tudo como se fosse agora, guardei o repente e a força, o toque e o agarrar, ainda está guardado, até sei o dia, coisa estranha para uma destraída que passa os dias a esquecer-se de tudo, para quem teima em deixar tudo para a última hora e nem sequer se esforça em desenvolver a arte de fintar a distração com aqueles truques simples que vê aos outros, ainda agora, lembro-me para me esquecer já de seguida que tenho malas para fazer, o passaporte está mesmo à minha frente, desse não me vou esquecer, bato na madeira, a minha tonta superstição, a única, e nada, já sei que vou passar os últimos minutos a enfiar na mala o que me vier à vontade, faço assim porque até agora nunca me esqueci do mais importante, acabei agora mesmo de ripar os CD que comprei esta semana para enfiar no meu iPod, vão fazer-me falta em 11 horas, não me posso esquecer de amanhã comprar pastéis de Belém, ai não posso mesmo, porque me pediram, posso chegar sem eles, basto eu, boa resposta, mas gostava mesmo de não me esquecer, devia fazer agora mesmo uma lista, devia aderir aos lembretes, mas não, insisto estupidamente em confiar na minha memória caprichosa, que tanto se esquece do óbvio (ai, e o gravador), como se lembra do improvável, do que se passou naquele momento há tanto tanto tempo

quinta-feira, 20 de março de 2008


já sabia e se já sabia porque é que procurei e porque é que ouvi agora já está outra vez mais uma vez percebi mais uma e outra vez tantas vezes

terça-feira, 18 de março de 2008

Aposta

O jogo é perigoso, já me contaram, pode tornar-se num vício, sem cuidado, no final, perde-se tudo, perdemo-nos, já me avisaram no que pode dar, mas cá para mim, o importante é ter medo, não do jogo, mas dos limites, cada um terá os seus, os meus, por enquanto, estão bem medidos, testo-os sem medo, estico até tremer e, se for caso disso, recuo, e assim vou apostando, viciada nos arrepios, há dias, fiz uma aposta de centenas, e tremi, tremo um bocadinho todos os dias, há de tudo, dias em que acho que vou ganhar, outros em que tenho a certeza que vou perder, mas já não tenho medo, já joguei, a roleta já anda, não vai parar tão cedo, o azar ainda tem muitos dias pela frente, até lá, as duas cores e os números vão correr à minha volta, a 20 de Junho vou poder fazer contas, sabendo já que, entre deve e haver, ganhará este, o meu risco compensa

Sonho

Nunca fazes aquilo que eu quero, tratas-me como se eu fosse uma escrava, vou contar até 10, um, dois, ..., vou, vou esperar por uma resposta, deves ser a única mãe que não gosta da sua filha, é, é, tu és má, MÁ... eu lá ouvia em silêncio, não sabia se ria, se chorava, decidi fechar os olhos e esperar até que adormeceu, finalmente, depois de ter acordado às três da manhã e de uma viagem de avião, de me ter pedido lanche ao pequeno-almoço, fui buscar os restos de paciência, não podia fazer outra coisa, e enquanto entretia o sono lembrei-me da sua felicidade, de me ter dito vezes sem conta que estava num sonho, da sua cara de espanto quando se cruzou com a sua Ariel, será que são mesmo verdadeiras, mamã, onde é que elas dormem, lá fui sentido os seus beijos de mil-formas, é tão meiga, dos abraços instantâneos que deu à Minnie e ao Winnie the Poo, já de olhos fechados pelo silêncio da sua respiração pausada, lembrei-me dos seus nem acredito mamã, que estamos as duas no Mundo da Disney, de como me disse, enquanto desenhava e treinava com empenho a sua assinatura, que bom que é assim, quando ninguém nos interrompe, quando ninguém te telefona do jornal para ires trabalhar, ainda fui buscar as nossas corridas, as danças em plena luz do dia nas ruas cheias de gente, as mãos quentes dadas e apertadas, de termos visto a parada debaixo de forte chuva, cada uma com a sua capa amarela, um pó de cor da loucura, do algodão doce que lhe tapava a cara, da pomme d'amour mordida a meias, da fantasia, de três dias sem computador, do tempo infinito, também deu para quase terminar o Património do Roth, continuam a cansar-me as partes sobre os judeus, mas não consigo resistir ao resto, já lá vão quatro livros seguidos, e já quase quase a adormecer, ouvia-a, tranquila, e lembrei-me de a ver, tanto, de me pasmar com o que ainda lhe falta de vida, de me orgulhar destes seis anos, de desejar como mais nada ajudá-la a crescer, de como tenho, tenho mesmo, uma filha, a minha filha, abro os olhos, puxo-a da ponta da cama, onde tinha amuado, e encosto-a a mim e antes de fechar os olhos, sinto amor, olho para os detalhes, tantas pestanas, e volto ao início, vejo-me tantas vezes

segunda-feira, 17 de março de 2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Até já


Sobram-me as palavras, mas falta-me o tempo, desencontros inofensivos, agora empacoto e parto para o mundo encantado do faz-de-conta, vou de alma nova, já mandei plutão passear, e vou voltar depois de passear vestida de Bela, como te prometi, serás sempre a minha Cinderela, e já me esqueci das fotografias que me pediram para entreter a frustração

Os meus olhos novos

I've seen the future

quarta-feira, 12 de março de 2008

segunda-feira, 10 de março de 2008

Olhos

E, entretanto, só já falo por gestos, os olhos já estão bem ensinados e fazem-se de desentendidos, fingem não dar pelos ataques cerrados, mas doseados, parecem ignorar, como quem muda de assunto, tudo o que é feito só para eles, bons olhos os meus, fingidos e treinados, mas obedientes, lindos olhos os meus, que escapam ao inútil morse de uma conversa de gelatina
Não tenho nada para dizer, mas desta vez, não é porque não consiga, porque as palavras não queiram sair, é antes porque me sinto estupidamente tranquila para pensar em escrever o que quer que seja, estou tipo relaxada, aliás, é isso que este post mostra, não é mau, mas também não estou propriamente eufórica com a falta de vontade de escrever

domingo, 9 de março de 2008

Aviso

Diria que tem 45 anos e é muito, muito bonita, morena, de cabelo comprido, e uma cara linda, o baton vermelho verdadeiro acentuava ainda mais os traços simples e tão verdadeiramente melodiosos, a L. dizia-me que o D. era "muito inteligente, demasiado inteligente", rimo-nos, o D. é sérvio, conheceram-se há muitos, muitos anos, tiveram um caso, às tantas, contava-me a L., "os papéis estavam a expirar , ele precisava e pediu-me em casamento. Eu aceitei. Foi meio a brincar, também só assim é que eu me casava", e depois disso já lá vão 16 anos e "dois filhos maravilhosos", e o D. com o seu sotaque estranho lá ia matando saudades da língua-materna com uma amiga enquanto a L. agradecia, muito a sério, enquando lhe dizia que elas tinham razão quando me tinham dito que era muito bonita, "Obrigada, estava mesmo a precisar de ouvir isso, há tanto tempo que não me diziam nada disso", e eu sorria e estranhava, que raio, seria possível em tanto tempo ninguém lhe ter dito que era bonita, e o D., será que já não reparava, "Não, o D. é demasiado inteligente", tinha-me dito a L., meio a sério, meio a brincar, acho que alguém devia avisar o D. que a L. continua muito bonita

quarta-feira, 5 de março de 2008

E agora estava na praia, só ouvia o barulho do mar, completamente esticada de barriga para cima, sentia só o sol da tarde a aquecer-me a pele e uma brisa leve, que aparece à chamada, uma combinação perfeita que amacia, e os dedos dos pés e das mãos na areia, fininha, e o tempo a sobrar e o corpo a levantar

terça-feira, 4 de março de 2008


E hoje estou assim...

Sentir

Não sei o que é, amor não pode ser, o tempo já me ensinou, digo eu, que o amor é raro, não é súbito, desconfio do género à-primeira-vista, e que para ser é preciso muito, mesmo muito mais, paixão também não me parece, essa deixa-nos tontos, embasbacados, esquecidos do mundo, e também quero acreditar que o tempo vai doseando a mistura química que faz saltar a cabeça do corpo, atracção, é possível, é mais simples e frequente, mas como vem, também vai, e como esta já se está a demorar, temo que também não seja por aqui, sexo, sim, pode ser, mas aqui, dizem as inúmeras teorias, que quem manda é o corpo, se assim é, também não pode ser, a vontade não seria sempre igual, de facto, não deve ser, não encontrei a resposta, nesse caso, os olhos não pediriam sem ver, e a teimosia, bem essa é uma carga de trabalhos, é caprichosa, insistente e, em dose inteira, tarda a passar, mas aí, suspeito eu, não cabem sonhos, só o orgulho ferido, a frustração de não ter, e, por isso, penso, penso sem sair do mesmo lugar, sem conseguir explicar o que sinto, porque alguma coisa devo sentir, não sei é o quê, nem é sempre igual, vai mudando entre o bold e o itálico, um tipo de letra que não gosto nada, meio inclinado, com a mania que tem estilo e que só serve para apertar as letras umas contra as outras, aliás, só por causa disso, vou acabar com ele, não é preciso chamar a atenção, já me dizias que isso era uma estupidez, que raio de atenção é essa que precisa de ser chamada, mas de volta ao que sinto, sentirei alguma coisa, se não sentisse não gastaria palavras à procura do sentimento, mais uma vez, tem sido assim, será o tempo, sem pressa, não é preciso correr, não me posso esquecer disso, será o tempo a explicar-me o que se passa, se sinto ou não, se já me habituei à ditadura do sentimento, tenho tantas vezes esta dúvida, pode sentir-se nada e pensar que esse nada é alguma coisa, pode a ilusão mascarar de amor, ou do que quer que seja, uma simples vontade de sentir

segunda-feira, 3 de março de 2008

Caixa

Flor

Só agora, no mês da Primavera, é que aquela flor começou a fechar, devagarinho, fui notando, uma pétala de cada vez, imagino que se tenha cansado de tanto sol e tenha decidido descansar um pouco, certa que a luz não irá faltar, calculo que esteja com sono, a meiguice deste Inverno não a deixou descansar, ou então, que alguma rega menos certeira a tenha obrigado a recolher, não sei, mas aquela flor já não está assim, espalhada, a sua forma está a mudar, aquela flor está quase um botão

domingo, 2 de março de 2008

Degelo

Três fins de semana seguidos de magia do teatro, o brilho dos teus olhos, a atenção permanente e a tudo, a boca aberta de espanto e de deslubramento, e à custa das nossas bochechas, o teu sossego ao meu colo que só é interrompido quando me pedes costinhas, nunca é assim com o cinema, tanta magia quase consegue quebrar o gelo que trazes, bebido sem vontade onde ainda há tanto frio, feito por quem, afinal, ainda não te consegue aquecer o coração e não te suaviza as mudanças de clima, mais tarde, já passou, a água quentinha do banho já te mostrou que por aqui só existe calor, muito, chega para te aquecer e sobra para te tentar convencer que não chegaste de nenhuma terra distante, que o sol brilhou, depois de umas framboesas, já dormes, no quentinho da nossa cama, só hoje, já passou, o frio já passou

sábado, 1 de março de 2008