domingo, 30 de setembro de 2007
sábado, 29 de setembro de 2007
Gajas
Dentro da espécie feminina, está cientificamente provado, existe uma sub-espécie, um tipo, uma estirpe, o que seja, a das gajas, já nem incomodam, são tão engraçadas, não entendem que já foram estudadas, que se sabe que reagem aos movimentos das mulheres com quem se cruzam , que é tão fácil condicioná-las, que como o cão de Pavlov, é tão simples conseguir estimular a sua salivação, as gajas não aprenderam a sê-lo, são-no, ponto.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Camionetas
A mesma camioneta e o mesmo destino, pelo meio, várias paragens, se a vida as tem, como é que uma carreira passa sem elas, um demora-se mais numa paragem, com medo do que pode encontrar na paragem seguinte, o outro avança mais depressa, mesmo sem saber o que o espera, desencontram-se, será que alguma vez se vão encontrar?
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
John Cale - Magritte
a song about one of my favorite paintors... he's been much on my mind these days...
Police II
Táxi, desistimos, comboio, esperámos, descemos na Cruz Quebrada, os Police, não Sting, já tinham começado há 10 minutos, andámos quilómetros e vimos, decepcionados, um Estádio Nacional com as bancadas meio cheias, sentámo-nos e preparámo-nos para começar a ver e ouvir, eu sempre na esperança de que ainda não tivessem tocado o 'message in the bottle', rapámos um frio inesperado que o dia não fazia adivinhar, e quando começavamos a gostar, depois de um Roxanne fantástico, as luzes apagam-se, resta-nos voltar e pensar que nunca, mas nunca os Police deveriam ter vindo a Portugal tocar num Estádio aberto, numa terça-feira de trabalho, mesmo com um palco lindo e um jogo de luzes indescritível, quando ainda por cima não ouvimos 'message in the bottle'...
terça-feira, 25 de setembro de 2007
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Melão
O melão é daquelas coisas que, por mais que se tente, só se consegue saber se é bom depois de aberto, quanto muito, no momento em que se espeta a faca. Na melancia, ainda podemos apertar, esperar pelo estalo, mas, no caso do melão, não há mesmo nada a fazer. Descobri isso hoje, mais vale tarde do que nunca. Escolhi um que me parecia doce, doce, maduro, delicioso, mas, afinal, era verde, sabia a pepino, acabou no meu caixote do lixo. Da próxima vez que escolher um melão, não me vou deixar iludir pelo seu aspecto prometedor.
domingo, 23 de setembro de 2007
sábado, 22 de setembro de 2007
'Spin Doctor'
Que belo 'spin doctor' na defesa de uma vida supostamente ideal e que, dizes, é pré-fabricada, estranho se assim não fosse, mas poupa-me, não preciso, prefiro os teus olhos, que, por vezes, se desviam, os teus silêncios e os teus sinais de irritação, guarda tudo isso para quem não te conhece, não é isso que eu gosto, não é isso que trago e não é isso que me faz querer voltar...
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Máquina de Lavar
Os olhos abrem-se, tem acontecido muitas vezes e já percebi que não há muito a fazer, já nem me irrito, de que me serve, levanto-me, dou de frente com umas olheiras, encolho os ombros e sigo, já nem tento contrariar, para quê, chatear-me, seja o que for há-de passar, um dia vou reconciliar-me com o sono, já me resignei e desisti de contrariar estes voos nocturnos, ainda que eles me custem parte do dia, entendo-os e por isso aceito-os, simplesmente, lembro-me agora que, já lá vai um bom tempo, não muito, caía de sono no primeiro encosto e não vivia melhor por isso, percebo e, só por isso, condescendo, o que me tira o sono não é vontade alheia, já não tenho é a mesma complacência com os outros absurdos, mas lá chegarei, à custa de horas e horas que o sono me rouba para me deixar pensar e tentar decifrar os meus enigmas, mas pouco importa, há-de valer a pena, nem que seja só porque deixam de o ser, durante tempos e tempos vivi a esquecer-me de pôr máquinas de roupa a fazer, às vezes até preparava tudo, detergente, amaciador, pastilha de lexívia delicada, mas eficaz, só faltava carregar no botão para aquilo começar a desandar, mas era fatal como o destino, de manhã acordava e a roupa continuava suja, na primeira vez, acho que até abri a porta e toquei para ver se não tinha sonhado, e assim sucederam-se as noites de máquinas por fazer, isto irritava-me, como é possível, sou esquecida, mas tenho tido ajuda, lembram-me tantas vezes, a certa altura, em vez de 'boa noite', já ouvia 'não te esqueças de pôr a máquina de lavar', ora aí está, foi aí que eu finalmente percebi porque detestava máquinas de lavar, até certa altura, nas poucas vezes que não me esqueci, até de portas fechadas o barulho me irritava, estava explicada [a minha filha acordou, pediu-me um bocadinho de luz para poder ver o cãozinho, ups...] a minha alergia ao electrodoméstico e, mais tarde percebi, essa e tantas outras coisas, se há coisa que ainda hoje, à beira dos 40, uma amiga minha diz que estou a passar mais cedo pela crise dos 40, ela lá saberá, mas, se há coisas que tiram o sono são as miudezas e as bugigangas, fico passada com as máquinas de lavar desta vida, não consigo, já tentei, mas não consigo entender como é se que perde tempo assim, com tanto para fazer, deve ser por isso que me espanto com certas vidas, mas não passa disso, encolho os ombros, às vezes acho que não consigo esconder um sorriso, e penso, é só mais uma máquina de lavar, mas também já percebi que há quem goste delas, há quem não consiga, aliás, viver sem elas, talvez a sua falta lhes traga as assustadoras insónias, e a mim, desde que não me deixem de dar as boas noites, pouco me importa, a mim o que me importa mesmo é agora ir encostar-me à minha filha, consegui dar-lhe a volta com uma vez sem exemplo na minha cama para me esperar, prometi que se ela adormecesse rápido, rápido eu me despachava, vou sentir o seu cheiro e a sua pele macia, disse-lhe que se ela não tivesse cuidado lhe comia uma bochecha, por acaso os lençois até estão lavados, foram mudados ontem, carreguei, há dias, no botão, e ontem disse à M. que, cá em casa, era eu quem voltava a fazer as máquinas de lavar
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Afia-lápis
Penso
Estou aqui, aprendo o silêncio, aproveito-o todo, sabe-me a pouco, tinha acabado de apagar as luzes, fechar os estores, de colocar o último do Auster, feito à medida para o ler todo ainda hoje, em cima das colunas, e preparava-me para me deitar, em silêncio, a ler e ouvir, talvez Feist, Let it Die, ao mesmo tempo que vou pensando em tantas coisas que interessam a mim e não só, penso que ontem não consegui evitar mais lágrimas, que, daquela vez, não as consegui segurar, escorriam em fio, caíam sem parar depois de ter recebido uma mensagem tardia de desculpas e de promessa de amor verdadeiro e eterno, de como fiquei triste, triste, de que como precisei de te telefonar e não pude, de como me encolhi com as mãos juntas entre as pernas muito apertadas e de como o meu corpo não conseguia sossegar por culpa dos olhos, penso que pensei se deveria aceitar, não as desculpas, o amor, e de como tentei imaginar como seriam os dias e as noites, se seria capaz, lembro-me que as lágrimas ensopavam a almofada quando percebi que não seria capaz, que ia retribuir a promessa com o silêncio, a forma mais suave de fazer morrer a esperança de quem me ama, penso que hoje de manhã consegui conter as lágrimas, aqui em casa, quando, cedo, a mostrámos à a maior imobiliária do mundo, que nos vai separar de vez, e penso que é triste, mas que merda, não posso fazer outra coisa, também penso que acabei de escrever sobre a desilusão, guardei, tenho guardado muito, penso que vou pensar muito mais até acordar...
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Vocação
Gostava de ter nascido com uma vocação, não uma qualquer, a de saber pintar, gostava de ter pintado o 'Room By The Sea' do Hopper, gostava de conseguir dominar as tintas e os pincéis, de pintar a luz, de encher uma tela preta, gostava mas não sei, tento, entretenho-me, mas acabo sempre por me confrontar com a dura realidade da falta de vocação, com a paixão não correspondida pelas cores, inconformada, tento distrair-me com a bem mais prosaica palete de sombras da M.A.C, onde tudo é negro, como a minha tela, menos as mil caixinhas de mil tonalidades, mates, irisadas ou nacaradas, à escolha, e onde também existem pincéis, compro, experimento, misturo, aqui até consigo pintar a luz, divirto-me e, por uns instantes, esqueço-me da minha fatal falta de vocação...
Era...
Aparentava ter uma "vida errada", ser interessante, conseguir desconcertar como poucos, aparentava conseguir surpreender muito e bem, escapar à pobreza de ideias da maioria, à falta de tanta coisa que falta a tanta gente, mas afinal, afinal, era só aparência, porque, no momento da verdade, quando teve que escolher, preferiu a normalidade, fácil, confortável, que se vai vivendo, sem esforço, sem pensar, fugiu à ruptura, dolorosa e incerta, mas que lhe daria aquilo que tanto desejava. Agora, resta-lhe sonhar, quando consegue, porque o sonho não é para todos, e a desilusão...
terça-feira, 18 de setembro de 2007
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Descalça
Paliativos
Porque será tão difícil ensinar o meu indisciplinado coração a moderar os seus batimentos e a mostrar-lhe que às vezes o que sente não passa de um simples paliativo, que por ser isso mesmo não merece tanto esforço. Talvez também não fosse má ideia o meu coração tratar de ensinar a parte pensante do meu corpo, seja ela qual for, a afastar de lado a necessidade do paliativo, garanto que viveria mais aliviada, ouviste coração?!
domingo, 16 de setembro de 2007
Férias II
Acabou o Verão, mas é agora que o meu coração se prepara para ir de férias, exausto, anseia por sentir só o único amor que não cansa, o amor pela minha filha...
sábado, 15 de setembro de 2007
Era o que faltava
Não tenho tempo a perder, nem paciência para os patetas alegres desta vida que aparentam viver num estado de eterna e infinita felicidade, conquistada através do SUV, do plasma e afins, a norma irrita-me e desconfio dos que cumprem sempre as regras, fujo deles, a não ser que me apeteça rir, mas não vivo só disso, a tristeza também faz falta na vida, o sal que nos deixa saborear o doce, mas que nem precisamos de nos esforçar para a ter, ela aparece sem cerimónias, nunca precisei de a chamar, era o que faltava ir atrás dela...
Ruptura
Entro nas lojas onde costumava comprar roupa e nada, ou quase nada me interessa, agora visto-me daquelas onde dantes achava impensável gostar do que quer que fosse, nem sequer passava da porta, na montra estava escrito 'impróprio para mães de família', eu sei, os meus amigos notam, comentam e é verdade, estou diferente na forma de vestir e de estar e, tenho dúvidas, se não estarei diferente também noutras coisas, mas estou alerta, estas mudanças de que me dou conta não são fáceis de exibir, ontem dei por mim a pensar que talvez não fosse muito aconselhável pintar já as unhas com o verniz preto, tenho um almoço em casa de uns amigos comuns..., mudanças que não fiz em casa, onde não mexi uma palha, as fotografias no quarto, os objectos nas prateleiras e nas gavetas, tudo intacto no espaço... regardless of what they say...
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Oriental
Não tenho ideia do tempo, nem da forma como cheguei ao quarto, mas suspeito que foram fofas e brancas nuvens que me trouxeram de uma massagem oriental. Estou tão tranquila, tão relaxada que quando me olhei ao espelho, até eu, que me vejo todos os dias, notei a diferença, sobretudo, no brilho dos olhos. Um negro vestido de branco dedicou-se durante uma hora ao meu corpo, ou melhor a mim, sempre com um enorme lençol branco que manejava com perícia para me proteger, e fez-me sentir todos os cantos. O meu coração quase parou, não se ouvia o respirar, apenas o som do piano, lembro-me que gosto tanto de piano. Gosto de todos os pedaços do meu corpo, não porque seja perfeito, feito a régua e esquadro, longe disso, mas porque tem história, é nele que está gravado tudo o que senti, acho que muito, de tudo, ou quase, é ele que me faz pensar e viver tudo como se fosse aquela a primeira e a última vez. Agora, falo de estar sentada a sentir o mar forte à minha frente, esta noite deverá ser o seu barulho, sempre diferente, a aquecer-me. Uma paz que sinto porque me sinto especial, tive a felicidade de me cruzar com algumas pessoas especiais, talvez elas se procurem e se encontrem porque sabem que só assim podem tentar ser especiais. Não se trata de um exercício de arrogância, mas antes de uma forma de vida, que tem valido a pena, tenho conseguido quase tudo o que queria da vida e o resto que me falta fica para depois, para o que ainda me falta viver, viver de espasmos...
Caçadora
"Só o desejo inquieto que não passa faz o encanto da coisa desejada, e terminamos desdenhando a caça pela doida aventura da caçada."
Mário Quintana
Mário Quintana
Linhas de expressão
Há já uns tempos que andava meio irritada por causa de umas linhas, cada vez mais visíveis, na zona à volta dos lábios e dos olhos, espelho para cá, espelho para lá e pensava, fumar não deve ajudar e a idade também não, hoje decidi, pelo sim, pelo não, passar pelo sítio onde, habitualmente e, confesso, frequentemente, deixo dinheiro em troca de potes de hidratação e num repente raro de assumida mortalidade perguntei, será normal, já!?, ela, a suposta especialista, negra, mais velha e nem uma linhinha, riu-se e disse-me, agora, chamamos a isso linhas de expressão, daqui a uns anos, não..., chamaremos rugas, disse-lhe e desatámos a rir, safa, afinal são só as linhas da minha expressão! Pelo sim, pelo não, acabei por trazer mais um pote, não vá a minha adorável expressão trair-me...
Because of...
Há pessoas especiais, apaixonantes, desconcertantes, cada vez mais quanto mais velhas são, são poucas, mas existem, as muito especiais sabem que o são e dizem-no, sem rodeios, sem falsas modéstias, e os outros limitam-se a ouvir..., because of...
Surrealista
Há dias, decidi fazer um programa cultural com minha filha*, fomos ao Museu Berardo, nunca antes tinha ido com ela a um museu, só daqueles com exposições infantis, diverti-me com os seus comentários aos surrealistas, tão imediatos, ainda que achasse estranha aquela realidade, nem hesitava e, olha, eu, calava-me, não tinha nada melhor para dizer. Combinámos que escolhiamos os quadros e cada uma contava uma história, ela escolheu, primeiro, a casa fantasmagórica do Angel Planells, sentámo-nos e diz ela [decidi escrever, foi tão rápida, olhos de crianças ] "É uma parede estragada e tem uma porta e lá dentro coisas mágicas, o sino abana sozinho, e bichos estranhos, uma minhoca ou uma aranha estranha. E está ali uma monstro-homem, tem as mãos muito esticadas, parece um esqueleto. E aquela mulher despida, não gosto. A pedra do chão salta sozinha. Só aquele vaso é que não é estranho, tem um pão a voar". Não reparou, nem estranhou a paisagem linda, demasiado azul celeste no meio de tanta coisa estranha. Ao longo da exposição, percebi, quando viu o telefone afrodisíaco do Dali, que ela só conhece telefones de teclas..., notei que lhe faz confusão as mulheres nuas, lixou-se um bocado para a pop art e depois fartou-se... fomos almoçar ao Jardim das Oliveiras...
*5 anos
*5 anos
Banda sonora
Todas as histórias têm a sua banda sonora. Esta tem muitas, lindas, muitas tristes. A última, que se ouve quando já só se vê na tela aquelas letras minúsculas, é do Leonard Cohen, fui eu que escolhi, chama-se 'Alexandra Leaving'.
As palavras:
Suddenly the night has grown colder.
The god of love preparing to depart.
Alexandra hoisted on his shoulder,
They slip between the sentries of the heart.
Upheld by the simplicities of pleasure,
They gain the light, they formlessly entwine;
And radiant beyond your widest measure
They fall among the voices and the wine.
It’s not a trick, your senses all deceiving,
A fitful dream, the morning will exhaust
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
Even though she sleeps upon your satin;
Even though she wakes you with a kiss.
Do not say the moment was imagined;
Do not stoop to strategies like this.
As someone long prepared for this to happen,
Go firmly to the window. Drink it in.
Exquisite music. Alexandra laughing.
Your first commitments tangible again.
And you who had the honor of her evening,
And by that honor had your own restored
Say goodbye to Alexandra leaving;
Alexandra leaving with her lord.
Even though she sleeps upon your satin;
Even though she wakes you with a kiss.
Do not say the moment was imagined;
Do not stoop to strategies like this.
As someone long prepared for the occasion;
In full command of every plan you wrecked
Do not choose a coward explanation
that hides behind the cause and the effect.
And you who were bewildered by a meaning;
Whose code was broken, crucifix uncrossed
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
As palavras:
Suddenly the night has grown colder.
The god of love preparing to depart.
Alexandra hoisted on his shoulder,
They slip between the sentries of the heart.
Upheld by the simplicities of pleasure,
They gain the light, they formlessly entwine;
And radiant beyond your widest measure
They fall among the voices and the wine.
It’s not a trick, your senses all deceiving,
A fitful dream, the morning will exhaust
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
Even though she sleeps upon your satin;
Even though she wakes you with a kiss.
Do not say the moment was imagined;
Do not stoop to strategies like this.
As someone long prepared for this to happen,
Go firmly to the window. Drink it in.
Exquisite music. Alexandra laughing.
Your first commitments tangible again.
And you who had the honor of her evening,
And by that honor had your own restored
Say goodbye to Alexandra leaving;
Alexandra leaving with her lord.
Even though she sleeps upon your satin;
Even though she wakes you with a kiss.
Do not say the moment was imagined;
Do not stoop to strategies like this.
As someone long prepared for the occasion;
In full command of every plan you wrecked
Do not choose a coward explanation
that hides behind the cause and the effect.
And you who were bewildered by a meaning;
Whose code was broken, crucifix uncrossed
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
Say goodbye to Alexandra leaving.
Then say goodbye to Alexandra lost.
Pintar
agora apetece-me mesmo ir embora deixa-me ir embora pintar uma tela colorida e esconder-me no meio de uma dália e fingir que sou um pétala que chatice eu sei que não sou uma pétala eu sei que aquele galho seco sou eu e eu sei que tu sabes que um galho seco não floresce se lhe deitares água apodrece por isso guarda a água que a mim sabe-me a cloreto de sódio mas quando voltar vou voltar cheio de história novas para te contar
Uma carta I
A minha filha contou-me que todas as noites sonha com a Princesa Ariel e com a Úrsula, o Terror dos Mares, achei que lhe devia dizer para ela esquecer a mazona e sonhar só com a sereia, mas ela disse-me "Não faz mal mamã, no final do sonho, a Ariel vive feliz para sempre com o Príncipe Eric!", fiquei mais descansada e perguntei-lhe, só para fazer crescer a fantasia, como é que ela fazia para conseguir sonhar todas, mas mesmo todas, as noites com a Ariel, explicou-me que era muito fácil e ao mesmo tempo que falava fazia os gestos, "É assim, mamã, primeiro fecho os olhos com muita força e depois baralho o cérebro e penso muito, mas tem que ser muito, na Ariel, no fundo do mar, cheio de peixinhos e estrelas do mar e, ao mesmo tempo digo baixinho, Ariel, Ariel, Ariel..., até que adormeço e sonho", eu prometi-lhe que ia fazer igual e que, a partir de agora, as duas íamos sonhar todas as noites igual, agora todas as noites, depois de lhe dar um beijo e de a aconchegar, os desejos são sempre de bons sonhos de sereia, ela sonha, quase todas as noites, algumas deve sonhar com a Ariel, as crianças sabem, mas eu não sonho, ou se sonho não me lembro, a verdade é que também nunca experimentei fazer como ela me ensinou, porque será que os crescidos quase nunca ouvem os meninos?, não me parece justo e muito menos certo, poderia resultar, nunca se sabe, e se resultar?, deixa-me tentar, fechei os olhos e pensei com todas as forças que tinha, fechei bem os olhos e baixinho, como ela me ensinou, sussurrei o nome da sereia até adormecer e não é que funcionou, sonhei, sonhei que estava no fundo do mar, rodeada de peixinhos de todas as cores, de estrelas do mar e até de cavalos marinhos, e que, enquanto nadava, suavemente, no meio daquele mar brilhante me dei conta que se preparava para chegar uma tempestade, talvez tivesse sido obra da Úrsula, nadei mais rápido e espreitei, olhei para o céu escuro e adivinhei os raios e os trovões e vi também um barco que não teria como escapar, aproximei-me, sem medo, afinal, as tempestades nunca chegam ao fundo do mar, foi quando te vi, preocupado, um pouco assustado, a chuva começou a cair e em pouco tempo o céu ficou negro e a única luz era a dos raios, o teu barco, meio à deriva, esforçava-se por se manter à tona e tu, tu resistias como um herói, como um príncipe, gostei de ti, não sei bem porquê, afinal tinhas pernas, esquisito uma sereia gostar de um humano, se o meu pai Tritão soubesse, nunca iria deixar, mas, nessa altura, quando te vi em apuros nem sequer pensei no Rei dos Mares, subi e puxei-te e fui nadando até uma pequena praia onde te deitei e eu fiquei meio dentro, meio fora, a única forma de poder estar contigo até tu conseguires acordar, tinhas bebido muita água, esperei impaciente, fui cantando, talvez a minha voz te fizesse despertar mais depressa, até que, finalmente, abriste os olhos, devagar foste descobrindo tudo à tua volta, até que me viste, surpreendido, olhaste para a minha longa cauda, acho que pensaste que era um sonho porque te beliscaste, e eu aproximei-me, só um bocadinho, não podia deixar o mar, consegui chegar aos teus lábios e beijei-te, devagar, e tu, tu desceste até as tuas pernas ficarem dentro de água, foi ali, entre o mar e a areia que nos passámos a amar todos os dias e de todas as formas, mas um dia a Bruxa dos Mares, acabou com o nosso segredo, mandou os seus escravos destruir a nossa praia, a partir desse dia, deixei de gostar do mar, só pensava em ter pernas, mas eu sabia, apenas a magia do tridente do meu pai me podia ajudar, por isso, pedi-lhe, insisti, implorei e ele lá cedeu quando olhou para os meus olhos tristes e percebeu que sem ti não seria feliz, deu-me duas pernas ao mesmo tempo que me alertou para os perigos de me aproximar dos humanos, ele, disse-me, sabia que o amor dos homens às vezes dói, sobretudo, nas sereias, mas eu, com as minhas pernas, já nem ouvi, desatei a correr para o teu palácio, já só pensava em te beijar, quando lá cheguei, tal era o desejo de te ver, nem reparei em como era tudo tão diferente no teu mundo, que a tua casa não tinha a transparência e o colorido do fundo do mar, só parei ao pé de ti, para te beijar, os teus lábios, esses eram os mesmos, e tu olhaste para mim, mais uma vez, surpreso, beijaste-me, abraçaste-me, pegaste-me ao colo e perguntaste-me "Princesa Ariel, queres casar comigo?", eu, sereia do mar transformada em pessoa da terra subi ao céu, disse-te que sim e, afinal, afinal a minha filha tinha razão, vivemos os dois felizes para sempre. Quando acordei, lembrava-me do sonho, de todos os bocadinhos, se os contasse nunca mais acabava, e desatei a correr para o quarto da minha filha, "Filhota, a mamã conseguiu, fiz tudo como me ensinaste e sonhei com a Ariel, sabes que tinhas razão, a Úrsula também apareceu, mas no final, a sereia e o príncipe foram felizes para sempre!", a minha filha olhava para mim, sem saber se devia ou não acreditar, mas respondeu, fiquei com a sensação que também ela apenas me quis fazer crescer a fantasia, "Mamã, eu não te disse!", tinha razão a minha filha, afinal consigo sonhar, hoje vou experimentar outra vez...
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