quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Para um amigo
"Apetece-me dar-te palavras, só palavras, nada de conselhos, talvez não façam sentido, espero que, pelo menos, se não te fizerem bem, que não te façam nada, gostava de te tirar parte do peso que pões em cima de tanta coisa, coisas importantes que fazem a vida, mas que estão longe de ditar a morte, são os riscos, ainda bem que os corremos, não fazer nada é o maior deles todos, é quando o medo aperta que vale a pena, a mudança faz bem e nada, mas mesmo nada, é irreversível, sobretudo, quando se tem uma vida pela frente, tempo para experimentar de tudo, conhecer muito para depois escolher, soltar o coração, o instinto, acreditar que acertamos e não ter medo de errar e corrigir, a vida não é assim tão pesada, não te pede tanta sobriedade."
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Cansada III
Outra vez, tão cansada de dias sem tempo para respirar, de saber que vai continuar a ser assim, que vou dormir cansada, que o sono me vai despertar durante a noite, que tenho fome e não tenho nada para comer em casa, ...da-se!
Gosto VII
Tanto de olhares sonsos e matreiros, conheço-os à distância, olhares de quem vive só de tentar.
Era...
... só o que me faltava, ter que enfrentar um tira-teimas com alguém tão, ou mais teimoso que eu, não vai ser fácil, vai haver arranhões, espero que não chegue a haver feridas, que o tira-teimas sirva para alguma coisa, que nos cure de uma vez e nos faça menos teimosos...
domingo, 28 de outubro de 2007
Preocupação II
A preocupação da minha filha está mais pequena, disse-me, agora já vê uma alternativa, se os pais não voltarem a ser namorados, podem sempre dar-lhe uma madrasta e um padrasto. Disse-lhe que era possível, que não conseguimos adivinhar a vida, só espero que não me comece a pedir padrastos como me pede uma irmã, queria poupá-la de mais um não, gostava que a sua preocupação fosse ficando sempre mais pequena até desaparecer para sempre.
Olhos
Ainda encontrei uns olhos magoados e tristes, quem me dera poder apagar essa névoa com um simples sopro, sossegar-te o coração, mas não posso, não consigo, só posso pedir mais ainda ao tempo que te ajude.
Lembrei-me...
... agora de, há uns meses, ter precisado de chorar e de não ter conseguido, de ter tentado vezes a fio e de não ter caído uma lágrima para amostra, lembrei-me de ter fugido para longe para arrumar gavetas e de, sem esperar, ter chorado tanto, sem esforço, de me levantar da cama e olhar para o espelho, enorme, mesmo ao lado, e ter encontrado uns olhos inchados, de me ter sentido aliviada com os papos, fazia-me falta, soube-me tão bem, não é masoquismo, chorar, às vezes, faz-me falta.
Dormir III
enroscada em mim e nas minhas sensações, – hush, can you hear? –, longe dos sentimentos...
Liberdade II
para as coisas simples, para libertar todos os sentidos, todos ao mesmo tempo, para me esquecer de pensar, para sentir do princípio, para ainda sentir que já não sei como sou...
sábado, 27 de outubro de 2007
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Raro
Linda, tranquila, o sossego, raro, misturava-se com uma certa melancolia, e, desta vez, uma absoluta indiferença, que se podia confundir com uma estranha confiança, dedicava-se, com uma calma anormal a fazer coisas simples, tão raro, talvez por isso a dedicação, o desprendimento, a indiferença, não lhe importava o tempo a passar, apenas o que fazia, tão simples, tão importante o silêncio, um sentimento de superioridade, sentia-se em cima de um pedestal que tinha construído, do qual desceria, mais tarde ou mais cedo, mas que importava, merecia, nem que a descida tardasse poucos minutos, sabia bem, conseguia antecipar ao detalhe, coisa rara, tudo o que tinha que fazer, coisas tão simples, nem era preciso pensar, coisa rara, alguém a observava, há muito tempo, muito ao longe, ela não tinha imaginado, quanto mais reparado, continuava apenas a sentir uma calma rara, a respirar, coisa simples, sem se cansar, quase parada só reparou quando ele se sentou tão perto que era impossível escapar, os seus olhos mexeram-se naquela direcção para ver o que a interrompia, sentiu uma irritação, não era justo, eram raros aqueles seus momentos, mas os lábios distenderam-se assim que encontrou o claridade de uns olhos escuros, nunca tinha encontrado nada tão negro e profundo, a sua tranquilidade não se foi, aumentou, sabia tudo o que iria fazer, ao detalhe, coisas tão simples que não cansavam, raras e cheias de sentido, espontâneas, sem pensar fez tudo o que sabia que tinha que fazer, sem nunca o ter pensado, sequer imaginado, tudo tão simples, afinal o paraíso estava tão perto, talvez dentro dela em cima do pedestal...
Escondido...
... por detrás de uma parede, escapa, evita, foge, rídiculo, prometeu, tem medo de voltar a faltar ao prometido, de voltar e de ter que voltar a prometer, tem medo de não conseguir voltar a prometer, ou de ninguém, nem ele, voltar a acreditar na promessa, assim é mais fácil, fugir, escapar, mesmo que já não faça falta, mesmo que já não haja do que fugir, afinal, sempre foi assim, fugir, fugir e fugir, não sabe bem porquê, nem em nome de quê, mas que alívio é ter alguém a quem poder prometer que foge, ter um caridoso crédulo que ama que ouve mentiras, mas vê verdades, que simples vida a de um fugitivo, que só consegue fugir.
Mentira
Perdoa-me, foi sem querer, não significou nada para mim, foi só sexo, tu és tudo para mim, aquilo que sempre quis para a minha vida, juro-te que nunca mais, mesmo, nunca mais, a sério, prometo-te, desculpa-me, por favor, não sei o que fiz, foi um momento de loucura, foram meses, poderiam ter sido anos, admito, não fosse o medo, mas pareceu que foi um segundo, só um segundo, quase nada, eu nem queria, diria que fui empurrado, obrigado, desculpa-me, prometo-te que nunca mais, nem sequer olhar, nem sequer falar, quanto mais desejar, abraçar, beijar, amar, perdoa-me, prometo-te, desta vez é a sério, mesmo a sério...
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Confronto
O inevitável confronto, que adivinho, antecipo, sem querer e sem saber como será, como serei, se vou rir, se vou falar, se me vai apetecer sequer olhar, não há tira-teimas, não há nada de especial, apenas o facto de ser um confronto.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Exteriores II
Sou a lua, ora cheia, ora nova, entre crescentes e minguantes, sou assim, por dentro, a lua, mas por fora, em mim, está o sol, os antípodas, ora exfusiante, ora apagado, uma enorme contradição é o que sou, entre interior e exterior, um desconcertante resultado que me desenvolve a um passo agitado, delirante e violento, num constante frenesim, que tanto me faz falta, mas que tanto me cansa.
Exteriores I
Tento sempre desvalorizar e concordar com os que afirmam convictamente que é uma grande tanga e enorme falta de bom senso acreditar que a lua ou o tempo podem influenciar o nosso estado de espírito, de alma, do que quer que seja, tento, mas não consigo, torna-se difícil acreditar em coincidências, então porque é que em dias de lua cheia me sinto especialmente explosiva, porque é que um dia escuro me entristece, me traz à flor da pele tudo o que guardo nas entranhas e me rouba o meu sorriso, porquê?
Afazeres
Hoje, já não serei, se for caso disso, apanhada pelo sono, era o que faltava, já lavei os dentes, tirei a maquilhagem e hidratei a pele, hoje, se me acontecer voltar a adormecer no sófá, já não passarei a noite com o sabor horrível de um dia inteiro, que me fez entreabir os olhos e pensar, várias vezes, na deliciosa pasta de dentes e noutras coisas bem menos agradáveis. Bem feita!
Desassossego IX
«O verdadeiro sábio é aquele que assim se dispõe que os acontecimentos exteriores o alterem minimamente. Para isso precisa couraçar-se cercando-se de realidades mais próximas de si do que os factos, e através das quais os factos, alterados para de acordo com elas, lhe chegarem.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Dormir...
... para esquecer, porque preciso, muito, tudo, mais ainda, adormecer o corpo, exausto, e o pensamento, cansado de pensar, recuperar forças para o que vai chegar, não sei o que é, mas suspeito que me vá cansar...
domingo, 21 de outubro de 2007
Tudo
Não há nada que leia de António Lobo Antunes, uma crónica, uma entrevista, um livro, que me passe ao lado, guardo sempre alguma coisa, da sua última crónica na "Visão", guardei, pelo menos, estas frases:
«A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais.»
«Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então, a nuvem sou eu. Gasoso. De que raio de substância sou feito?»
«A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais.»
«Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então, a nuvem sou eu. Gasoso. De que raio de substância sou feito?»
Desassossego VIII
«Nunca amamos alguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma é a nós mesmos – que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Desassossego VII
«Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa – não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Cansada II
Um nevoeiro que me quer confundir, mas eu consigo continuar, não vou recuar com medo de umas nuvenzinhas que me querem cansar, não vou parar porque é mais seguro, prefiro acender as luzes, andar mais devagar, mas continuar, não insistas, por favor!
Dormir
Deitámo-nos à mesma hora, eu também precisava, lemos estórias, conversámos sobre o que gostamos, o que detestamos, o que nos chateia, as nossas coisas preferidas, as nossas preocupações, sobre muita coisa, o mais que fui capaz, preciso ler o que vai na cabeça e no coração da minha filha, preciso que ela saiba que eu estou sempre ao pé dela, mesmo quando não estou, e adormecemos enrroscadas, um sono seguido, apenas interrompido pelas suas mãozinhas, que me procuravam para me sentir, e pela sua vozinha a dizer «gosto muito da mamã», tão bom, precisavamos as duas deste mimo, destas horas de sono doce, de saber que o incondicional existe, existirá sempre, as minhas preocupações não desapareceram, espero ter conseguido adormecer as dela.
sábado, 20 de outubro de 2007
Preocupação
A minha filha ainda tem uma «preocupação», gostava que os pais voltassem a ser namorados. Ai, que não sei como lhe explicar que isso já não vai ser possível, não sei como lhe tirar essa preocupação... Fiz nova tentativa, no filme que fomos ver, o Pi começa por perder os pais, ela chorou, ouviu-se na sala toda, quando cheguei a casa, revimos o filme e tentei explicar-lhe que ela não perdeu nenhum dos pais, que os dois a amam mais que tudo, que nada mudou, acho que ainda não consegui tirar-lhe a preocupação, mas sei que, um dia, vou conseguir...
Cansada
de não ter tempo para dormir,
de noites que esgotam mas não satisfazem,
de me zangar,
de tentar explicar o que não precisa de ser explicado,
de me preocupar,
de não conseguir evitar o sentimento de culpa,
de ser coerente,
de esperar que o tempo ajude,
de ter que gerir as emoções dos outros,
que me digam que devia voltar atrás,
de tanta coisa que me cansa...
de noites que esgotam mas não satisfazem,
de me zangar,
de tentar explicar o que não precisa de ser explicado,
de me preocupar,
de não conseguir evitar o sentimento de culpa,
de ser coerente,
de esperar que o tempo ajude,
de ter que gerir as emoções dos outros,
que me digam que devia voltar atrás,
de tanta coisa que me cansa...
Cinema
Um tubarão tigre ou uma mulher determinada, não escolha, é uma luta difícil, lembro-me agora de ter ouvido esta frase no filme «O Gang do Pi», uma sessão a dividir pipocas com a minha filha.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Solidão vista por Chico Buarque
“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo… Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos… Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente… Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto…
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma”.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos… Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente… Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto…
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma”.
Liberdade
Pode não parecer, mas os anos trazem-nos coisas boas, eu sei que parece conversa de quem está a caminho dos quarenta, mas a verdade é essa, a idade tem muitas vantagens e uma delas é a conquista da liberdade, liberdade para fazer, para gostar e até para sentir aquilo que bem nos apetecer, sem nos preocuparmos com o que os outros podem dizer ou pensar, a liberdade de nos estarmos perfeitamente a cagar para os outros, para o que o grupo que te integra pensa ou faz, a liberdade de fazer e ponto.
Porra
Sabia que não ia ser fácil, que não era só passar uma borracha, mas também já chega, parece que não acalma, até me esforço por não ligar, canso-me de dizer -Faz parte!, mas que porra, será que ainda vai demorar muito tempo, é que já só me apetece fugir outra vez, sou chamada para tudo, e quando alguma porcaria acontece, até os silêncios sugerem que a responsabilidade é minha, é obra, estou a ficar mesmo irritada, só peço que passe depressa!!
Gosto VI
De começar o dia zangada com a minha fiha porque soube que ela "roubou" 1,45 euros a uma menina da outra sala, de lhe tentar explicar, entre o pequeno-almoço e o lavar dos dentes, que isso não se faz e que agora vai ter que devolver, que vai ficar de castigo e que hoje não terá direito ao seu um euro semanal para ir ao bar comprar gomas, que as regras são para serem cumpridas, que a vida é lixada até para as crianças de cinco anos e que, se a professora definiu a sexta-feira como dia dos doces, não pode ser a quarta-feira, enfim, gosto de começar o dia a explicar a situação à directora pedagógica e ao pai da minha filha, como gosto que ele me sugira que sou eu a culpada destes desaires da minha filha, que, afinal, tudo não passa de uma forma de ela chamar a atenção para o que a incomoda e entristece, como é o caso da separação dos seus pais, como gosto, mas tanto, de terminar a semana com acusações e de consciência pesada, aliviada apenas pelo forte abraço que lhe dei à porta da sala de aulas e pela cara de alívio que fez quando lhe disse que tinha sido um erro, que todos erramos e que confio nela e sei que nunca mais vai voltar a fazer.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Clima
As alterações climáticas, a camada de ozono, alguma coisa deve explicar a minha necessidade de irresponsabilidade e de inconsequência, a minha vontade de sentir e só depois pensar, com conta, peso e medida, à minha medida, já me conheço, existirá uma explicação, mas não me interessa, quero lá saber, ainda podia pensar, mudar de ideias e isso, isso sei bem que não quero já, viver assim sabe tão bem...
Profundidade
Hoje ao almoço, lembrei-me de um filme particularmente estúpido, "The Stepford Wives", estava a almoçar quando entraram duas mulheres, foi impossível não reparar, sobretudo na loira, parecia uma cópia da personagem interpretada pela Nicole Kidman, uma espécie de boneca de porcelana, fina e bem pintada, uma espécie de mulher fabricada para ser perfeita, tudo no sítio certo, até a caixa da Hermés em cima da mesa com umas sabrinas que devem ter custado o dinheiro que ganho num mês, a voz fina e calculadamente alta para ser ouvida, para ser notada, dei por mim a olhar, boquiaberta, a pensar na profundidade daquela mulher e no cansaço que seria almoçar com ela, quanto mais viver com ela, dormir com ela, que homem suportaria anos de conversa sobre sabrinas e afins, será que teria de lhe pedir licença para estragar o penteado, e se ela se partisse, é possível, desconfiei que existisse tamanha paciência, mas logo a seguir, tive a certeza que existe e que não são assim tão raros os homens que escolhem este tipo de mulheres para esposa, no seu significado mais literal, para mãe dos seus filhos, são bonitas, bem-educadas, conhecem de cor as regras de etiqueta e devem ser óptimas na gestão do lar, das amorosas empregadas, resumindo, estas mulheres ficam sempre bem em qualquer lado, são cansativas é verdade, mas isso, em certas ocasiões, até pode ser visto como uma qualidade, nada como uma óptima bengala num 'cocktail' onde é sempre preciso fazer conversa sobre tudo e nada, no final, imagino que a utilidade deva compensar o esforço, até porque estes homens costumam ter mais que fazer, tanta ocupação, tanto trabalho, coitados, precisam é de decansar, chegar a casa e não ter que pensar em mais problemas, mas estas mulheres, sobretudo a loura, conseguiram ser notadas à entrada e à saída, a saída que ficou marcada pela ternura, a loira espreitou, por dentro das calças, para a lingerie da outra, aprovou, consegui perceber, e acho que até consegui ouvir que era de renda...
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Desassossego VI
«Sem querer, sinto que tenho estado a pensar na minha vida. Não dei por isso, mas assim foi. Julguei que somente via e ouvia, que não era mais, em todo este meu percurso ocioso, que um reflexor de imagens dadas, um biombo branco onde a realidade projecta cores e luz em vez de sombras. Mas era mais, sem que o soubesse. Era ainda a alma que se nega, e o meu próprio abstracto observar era uma negação ainda.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Desassossego V
«Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tange e range, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.»
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Viver
Não é possível ter tudo o que se quer, também não se pode fazer tudo o que apetece, já tenho idade para perceber isso, não tenho é paciência para deixar de viver o que posso e me apetece.
Grande
Há coisas insignificantes que nos fazem sentir importantes na nossa absoluta irrelevância, coisas que não se contam, ou se se contam, não são capazes de prender a atenção dos outros, quanto muito, esboçam um sorriso, porque querem ser simpáticos, coisas que só interessam a quem as sente e, mesmo assim, muitas, acabam, mais tarde ou mais cedo, por deixar de ser importantes, mas, são estas pequenas coisas que nos fazem viver a pensar nas maiores.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Irónica
Hoje, sinto-me um perfeito saco de boxe, feito para levar porrada de todos os lados, como o saco, lá ando, de um lado para o outro, à mercê dos murros que a vida guardou para despejar de uma só vez, quando menos se espera, vem sempre outro, mais forte, ou mais fraquito, mas vem sempre outro, a vantagem é que, como a porrada vem de tantos lados, não me concentro, vou alternando, sem encucar, sempre dá para desenjoar...
Contar
Contar a alguém que ama que, em determinado momento, mais do que um, o esquecimento e tantas outras coisas que não se explicam tomou conta das horas e as horas foram passadas com outra pessoa é duro, duro para quem conta e para quem ouve, também depende muito da forma como se conta, se se conta tudo, ou em parcelas, se se omite, ou se se exagera, depende também do objectivo com que se conta, mas, não há dúvida, o resultado é imprevisível...
domingo, 14 de outubro de 2007
Fotografia
"Quando é que foi a última vez que alguém tirou uma fotografia a uma pessoa que não existia?", li no meu livro, eu cá sei, eu sei quando foi a última vez que fotografei uma pessoa que não existe, tirei-a não há muito tempo, a fotografia, papel mate com margens, guardo-a no meu coração, entre folhas de papel fino, não a mostro a ninguém, será sempre minha, não a mostro porque não posso, mas, mesmo que pudesse não queria, aquela fotografia é só minha, de mais ninguém, não mostro, mas consigo descrevê-la, foi a fotografia mais colorida que alguma vez tirei, simples, a pessoa não existe, é verdade, mas não é por isso que deixa de ser bonita, apontei a a minha lente para os seus olhos, tão escuros e penetráveis, consegui entrar e ver como eram profundos, levaram-me por caminhos onde quase sufocava com a respiração, tinha que voltar a correr para trás, não que me faltasse o ar, eram os olhos, negros, que se queriam fechar, eles sim, tinham medo, mas aqueles olhos também viam, sentiam, devagar, devagar, às vezes, paravam, e era, então, que eu não conseguia parar de olhar para eles, parados, tão brilhantes, mesmo em cima de mim, quanto mais olhava para aqueles olhos, mais eu via, eu entrava para voltar a sair, às vezes, não conseguia deixar de sorrir, enternecida com o que via naqueles olhos doces, tão doces que tinham cheiro, forte, tinham sabor, intenso, estes olhos libertavam todos os meus sentidos, nem as minhas mãos se seguravam, também os tocaram, eu lembro-me bem, de passar os dedos, eram os meus dedos que sossegavam aqueles olhos, que os fechava...
sábado, 13 de outubro de 2007
Surreal
Enquanto espero pelo pequeno-almoço no quarto, mordomias de hotel, vou recapitulando, com alguma dificuldade, foram poucas as horas dormidas, os episódios da noite anterior, nenhuma tragédia, mas uma sucessão de imprevistos [não me trouxeram croissants e o leite vem quente...] infelizes, recordo especialmente um, de olhar para o telemóvel e ver duas chamadas perdidas, recentes, da minha vizinha, a tantos milhares de quilómetros de distância, pensei, de imediato, que me tinham assaltado a casa, ou qualquer outra porcaria, toca de ligar, e eis senão quando, depois dos cumprimentos, rápidos, e de assegurar que a minha casa não tinha pegado fogo, ela me explica, na sua voz habitualmente calma, que me ligava, apesar de saber que estava a milhares de quilómetros, porque sabia, dizia a vizinha, que a felicidade da minha família, sobretudo, da minha filha, estava nas minhas mãos, e que gostava muito de nos ter aos 3 juntos como vizinhos. Nem queria acreditar, por um instante pensei que era efeito de um copo de vinho branco que tinha bebido ao jantar, respirei fundo, dei-me conta do ridículo, ia num táxi com mais três pessoas, entre um ruidoso Fratelli e o Hilton Hotel, então, na minha voz mais doce agradeci-lhe a atenção, várias vezes, de que serviria qualquer outra coisa, o que fazer quando, de repente, toda a gente se acha no direito de dar palpites sobre a vida alheia...
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
SPM
Nada a fazer, uma fatalidade, mas que me transforma no ser mais frágil à face deste mundo mundial, nos últimos dois meses, então, acordo com os olhos feitos em trambolhos, hoje, mal os conseguia abrir, enfim, o que me anima é que como vem, também vai.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Filha II
Hoje, ao telefone, explicava à minha filha que a mamã ia hoje à noite, mas que depois faltava só quarta, quinta, sexta, sábado e que domingo voltava... ela fez-me uma festa de despedida... devo preocupar-me?
Farta
de burros, têm um ar meigo, são fofos, queridos, inspiram carinho, mas não aquecem, nem arrefecem, são lentos, param, e, nunca se sabe, quando menos se espera, podem vir os coices, por isto tudo, cansei-me, fartei-me, decidi pensar antes num animal mais feroz, aliás, quanto mais feroz, tanto melhor, assim, pelo menos, sei que posso sempre contar, no mínimo, com uma dolorosa dentada, também sei que não me posso distrair, nem deixar-me levar pelos seus olhos meigos, assim não me aproximo, conservo a prudente distância de segurança, já escolhi, vou começar pela bela pantera.
Fuga
Fazer malas e enfiar-me rapidamente no avião, fugir, deixar tudo para trás, e tentar esquecer algumas coisas que me vão dizendo para me entreter, para me empatar e que acabam por me desviar da minha nova forma de vida, não tenho pressa, nenhuma, mas vou gostar de saber como é que vou regressar...
Profissão
Existem os que foram feitos para amar, por mais que tentem, não conseguem viver sem procurar, a toda a hora e todo o instante, o amor, uma espécie de droga sem a qual não conseguem viver, «the lovers», a língua inglesa é exímia na sua definição, mesmo sem se darem conta, têm os sentidos em alerta vermelho, não escapa um, sempre em sentido, o objectivo, esse, está bem definido, é amar, uma profissão a tempo inteiro, diria que de alto risco, que os esfalfa, mas que os recompensa do vazio que sentem quando o coração adormece, estes, vivem tudo à flor da pele, o bom e o mau, sentem, tão simplesmente, emocionam-se, riem, choram, deixam-se embalar pela vida, é assim que conseguem viver, numa espécie de balancé, que ora sobe, ora desce, não depende só deles, de nada lhes serve uma tábua parada à custa de ter sempre os pés no chão, e depois, depois existem os que não amam, porque não sabem ou porque não querem, os que escolheram ser amados, que aprenderam a amar os que amam, e que, viciados no amor que recebem, retribuem com o que podem, uns com muito, outros com menos, nunca é amor porque disso não há, em alguns casos, a simples existência é suficiente para aliviar o dever da reciprocidade, é assim que concebem a vida, fazem-no com tanto ou mais profissionalismo que os outros, não amam e, por isso, também não sentem à flor da pele, mas também não querem, quando se juntam, um de cada, é difícil separá-los, tal só acontece se, por um acaso, o primeiro deixa de amar, e, lá está, como não sabe viver sem amor, num ápice, percebe que não lhe resta alternativa senão desatar a correr à procura do novo amor, já o que não ama, não treme, não está habituado a mexer-se, senta-se e espera, confiante, sempre foi assim, espera pelo próximo, entretanto, como não deu, mas recebeu, tem reservas, um saldo para ir gastando à medida das suas necessidades, eu não sei, mas arrisco, esta parece-me a combinação perfeita, afinal, cada um vive para o que nasceu, e, muito importante, arrisco eu, não se aleijam, desde que, isso é fundamental, nunca se desviem das suas vocações. Enfim, eu, no que me toca, estou naquela fase em que quero escolher, o direito a acreditar que posso, pelo menos tenho, tantos anos devem bastar, mas ainda não sei, não me decidi, sei muito bem qual é a minha vocação, mas também sei que me posso lixar para ela, fechá-la a sete chaves, não há tanta gente cansada a mudar de profissão, porque é que eu posso fazer o mesmo...
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Escalada
Numca me aventurei nas alturas, tenho medo, mas hoje, sem saber ler nem escrever, dou por mim numa escalada frenética, subo todas as paredes que tenho em casa e nem preciso daquelas borrachinhas de apoio...
Escolha múltipla
1. Quem é que se aleijou?
a) «Não é porque o burro deu um coice que se lhe vai partir a perna.»
b) «O burro não deu um coice porque é que se lhe vai partir a perna.»
c) «Porque é que lhe deu um coice se o burro não vai partir a perna, afinal foi a perna do burro que se partiu e já anda algum por aí a dar coices ao burro.»
a) «Não é porque o burro deu um coice que se lhe vai partir a perna.»
b) «O burro não deu um coice porque é que se lhe vai partir a perna.»
c) «Porque é que lhe deu um coice se o burro não vai partir a perna, afinal foi a perna do burro que se partiu e já anda algum por aí a dar coices ao burro.»
Não...
...consigo, há dias assim, não consigo, até gostava, estou há que tempos a olhar para este quadrado, mas não me sai uma palavra, uma que seja, não consigo dizer nada, com tanto para dizer, mas não sou capaz, o meu coração está num pingo, fechou, fez uma birra por causa de um burro e levou-me as palavras, eu amanhã já volto, quando o amuo deste meu caprichoso coração já tiver passado, eu entendo-o, ele é mole, tão mole, derrete-se por tudo, ficou triste, mas amanhã, depois de uma bela noite de sono, eu vou aconchegá-lo, ele vai acordar grande, enorme, e não me admiraria, já o vou conhecendo, que começasse o dia aos coices...
domingo, 7 de outubro de 2007
Desassossego IV
«Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.»
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Acabou
Chegou ao fim o meu prolongado fim-de-semana 'full-mother', hoje, depois da natação e de uma festa de aniversário de uma amiga, regressavamos a casa e num semáforo qualquer, sai-lhe esta pérola "-Estes gajes nunca mais aprendem que só dá para uma fila de carros!", ai, imprecaução de mãe, que sem se dar conta que está acompanhada, não evita desabafos impróprios.
Falta pouco
(...)
-E contigo, tudo bem? Nunca me contas como estás!!
- Comigo tudo bem. Bj
- Contigo está sempre tudo bem. Como é que consegues?
- Com criatividade.
- :-) beijos
- Beijos
-E contigo, tudo bem? Nunca me contas como estás!!
- Comigo tudo bem. Bj
- Contigo está sempre tudo bem. Como é que consegues?
- Com criatividade.
- :-) beijos
- Beijos
Esquecimentos
Esqueci-me, tanto tempo com a mesma pessoa tem destas coisas, que os homens, detesto estas generalizações, a maioria dos homens não consegue entender que quando uma mulher pede colo, ou mimo, não quer necessariamente sexo, que lhe basta só um abraço, as mãos no cabelo e um sussurrar ao ouvido 'vai passar', afinal, não é para isso que servem os amigos, e que, mesmo que outras coisas já se tenham passado, aliás, por isso mesmo, porque outras coisas já se passaram, é possível que, desta vez, mais íntimos, até possam adormecer abraçados, mais nada, já me tinha esquecido, mas lembro-me agora que, há muitos anos, há tantos anos que já me tinha esquecido, isso me aconteceu, dormi agarrada a um amigo meu e que, quando contei, tão orgulhosa, me atiraram logo com um 'a sério! só pode ser maricas!', enfim, coisas que me vou lembrando e que me vão ser muito importantes nesta minha nova forma de vida.
sábado, 6 de outubro de 2007
Carências
É desconfortável, a palavra talvez não seja a melhor, mas é a que me ocorre e que me parece adequada, deixar de ter alguém que gostava, ainda gosta, mas para o caso pouco importa porque vai deixar de gostar, é uma questão de tempo, alguém que gostava de mim porque sim, alguém que se preocupava com as minhas tosses ou dores de cabeça...
Mudar
os meus 'usermanes' e 'passwords' de 13 anos, que já não fazem sentido, não que sinta necessidade, mas não deixa de ser estúpido atender o telemóvel, ou entrar no 'blog' com certas palavras, certo é que, também não tenho pressa e afinal, ainda nem sequer passaram três meses...
Não
sou, lamento, tu até podes pensar que sim, mas não, não sou um dos teus velhos amigos, nem sei se alguma vez serei, não sei se quero, mas se pensar que sim te faz feliz, calo-me, mas o meu silêncio, tu já o conheces, não costuma ser de consentimento.
Dias
Depois de um feriado em que tentei, tentei mas não consegui, disfrutar a 100% de um dia de filha, a consciência pesou, lá me deitei, sem colo, sem mimo, nem música consegui ouvir, apressei-me a fechar os olhos para dormir muito e tudo de seguida, um esforço que foi interrompido por um sms tardio, corri, importante mas nada de interessante, e voltei a concentrar-me em me convencer, ainda antes de adormecer, que estes altos e baixos fazem parte da vida, que, como tu dizias, todos os têm, lembrei-me de Pessoa e da sua lição de sabedoria extrema, de como sei que vai passar, que é normal sentir-me carente, afinal mudei a vida, que antes também não tinha o colo nem o mimo, apenas a imagem presente, demasiado presente, da sua existência, e dormi, dormi muito e tudo de seguida, até a minha filha me perguntar se já podia acordar, que querida, a minha filha ainda pergunta, e agora preparo-me para um dia de mãe, este já sei de antemão que também não vou disfrutar a 100%, a consciência pesará pouco e a minha filha ajudará a acalmar os ímpetos sufocantes da avó.
Duas semanas II
São só palavras, mais nada, as que me calharam desta vez, envio-tas para nada, para ti, porque estou cansada de falar comigo e porque sei que a ti não te pesam, porque sabes que eu não quero resposta, esta mensagem nem sequer existiu.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Desassossego III
«Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.»
Fernando Pessoa
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.»
Fernando Pessoa
I'm Your Man
Há poucas pessoas que nos conseguem mostrar que a beleza existe e é verdadeira, Leonard Cohen fez, faz e fará sempre parte da minha vida. Acabei de ver o «I'm Your Man, 2005», mais uma vez, e voltei a sentir-me arrepiada. Obrigada.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Razão
Nestas coisas do coração, a razão já desistiu, já me deu como um caso perdido, já nem arrisca aparecer, ainda bem, eu fartei-me de a avisar e ela cansou-se, finalmente, de me tentar agarrar, bem sei, vem nos livros, os amigos avisam-me, na dose certa, a razão nunca fez mal a ninguém, mas não quero saber, tentei, mas não sei, o que quero é viver e sentir e isso, a razão não me dá, ela, é verdade, poderia poupar-me de algumas desilusões, sossegar o meu coração, mas tal como eu, também ele prefere continuar a bater...
Desassossego II
«Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer... Poder ali chorar cousas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de cousas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro...»
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Não esquecer
de pagar as contas, de fechar as persianas, de levar o lixo, de ver o correio, de comprar leite e bolinhos de canela, de tantas coisas que não estava acostumada a fazer, mas que me fazem muita falta.
Nadas
que me sabem a muito, a 'Happy' e a 'Elle' à minha espera, para folhear e me entreter deitada no sofá da sala com uma mantinha fofa nos pés, sim, já tive que calçar meias para dormir, os meus pés continuam a demorar a aquecer.
Desassossego I
«Sinto-me constantemente numa véspera de dspertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de conclusões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte. Mas há um grande sono comigo, e desloca-se de umas sensações para outras como uma sucessão de nuvens, das que deixam de diversas cores de sol e verde a relva meio ensombrada dos campos prolongados.»
«Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém. Há, algures, um subterfúgio transcendente, uma divindade fluida e só ouvida.»
Fernando Pessoa
«Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém. Há, algures, um subterfúgio transcendente, uma divindade fluida e só ouvida.»
Fernando Pessoa
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Filha
Nunca me faltou, o colo da minha filha, o meu porto de abrigo, o meu amor, basta olhá-la enquanto dorme para me aperceber da irrelevância de tanta coisa, é este o lado egoísta da maternidade, saber que a única pessoa por quem sou capaz de dar a vida, sem hesitar, me aquece o coração quando eu preciso, sem eu ter que pedir, sem ela saber, ou sequer se esforçar, é ela que me faz enfrentar todos os riscos, porque ela existe, porque ela já existe, já não tenho medo de viver.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Excesso de 'curriculum'
Como os que, insatisfeitos com uma simples licenciatura, fogem da vida profissional e coleccionam mestrados e doutoramentos, é assim que, agora, me sinto, como os que não conseguem encontrar um trabalho por excesso de habilitações, estava eu longe de imaginar que, alguma vez, seria capaz de assustar um coração, imprecaução minha, não me lembro de ter tido medo...
Missão
A missão do dia foi comprar o 'Cintura' dos Clã e o 'Livro do Desassossego' de Fernando Pessoa. Como me disse um dia um amigo meu, este é o livro para ter na mesa de cabeceira, para abrir ao calhas e ler, aquilo que sair servirá sempre para alguma coisa.
Testei esta sua teoria e hoje calhou-me na sorte: «Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas na da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria. Considerar isto em pleno meio dessa angústia é a sabedoria inteira. No momento em que sofremos, parece que a dor humana é infinita. Mas nem a dor humana é infinita, pois nada há humano de infinito, nem a nossa dor vale mais que ser uma dor que nós temos».
O meu amigo está certo, continuarei a jogar esta roleta.
Testei esta sua teoria e hoje calhou-me na sorte: «Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas na da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria. Considerar isto em pleno meio dessa angústia é a sabedoria inteira. No momento em que sofremos, parece que a dor humana é infinita. Mas nem a dor humana é infinita, pois nada há humano de infinito, nem a nossa dor vale mais que ser uma dor que nós temos».
O meu amigo está certo, continuarei a jogar esta roleta.
À venda
Hoje, vão espetar uma placa de vende-se na varanda da nossa casa, só espero que seja rápido, que encontre uma outra, linda, minha, para começar tudo de novo, com tanta vontade.
Certa
Tantas desculpas e juras de amor eterno para quê, cada vez me sinto mais aliviada, tomei a decisão certa, afinal, tudo está igual, alguns dias, pior, as cobranças, as acusações, tudo o que fazia parte da minha vida normal, mas boa, tudo o que quero que acabe e que vai acabar.
Urgência
Cansada de as puxar, de ter percebido que não há solução, no sábado, despi-as sem ter que as desabotoar, entrei pela loja dentro, experimentei todas as que gostei e comprei em série, a partir de amanhã, pelo menos as calças, deixarão de cair.
Um sonho...
...ou um pesadelo, acordei sobressaltada, tinhas enviado uma mensagem a contar-me que não tinhas aguentado, que, finalmente, ias fazer aquilo que há muito querias, meio incrédula, não sabia se se tratava de um sonho, até me levantei para ver o aparelho, sempre espetado na outra ponta do quarto para me despertar longe da cama, afinal tinha sido um sonho, voltei a adormecer, mas, antes, ainda me lembro de ter pensado que podia ter sido um pesadelo, deixa-te estar.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Liberdade
para tanto, para tudo, para o que já me tinha esquecido, para chegar a casa às sete da manhã, saciada, para me sentir no dia seguinte, para ouvir as músicas da véspera e lembrar-me das tuas mãos no meu corpo e das palavras que sussurraste, de como me esqueci das horas, muitas, de como sossegámos e de como nos largámos, sem jeito, com um abraço apertado, que bom.
Tão longe...
cada vez mais longe, passou tão pouco tempo, como foi possível tanto entusiasmo, tanta ilusão, afinal tinhas razão quando me dizias que eras tão pouco no tanto que quero, tu sabias e eu não queria saber, não conseguia, preferia pensar que tinha encontrado, tão cedo, o tanto que quero, tinhas razão, já cansado das tuas ilusões, afinal eu nunca te quis, não te quero, agora é fácil perceber que tinhas razão...
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