quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Imortal
Desafiar a sorte, arriscar, viver no limbo, com a absoluta confiança que tudo vai correr bem, sempre, que faço, posso, que não existem impossíveis, que devo tentar sempre até ao último minuto e só desistir quando não me resta mais nada para fazer, saber perder, minimizar, reduzir as preocupações, desvalorizá-las e dedicar-me apenas ao que importa, não pensar nunca no pior, não sofrer antes de tempo, nunca perder tempo com as coisitas, rir muito, mandar na minha vida, vivê-la à minha maneira, soltar a inconsciência, efervescer, fintar o medo, rasgar, conhecer os limites, desafiar, tirar os pés do chão, pensar, imaginar, sonhar, mas, sempre, sempre a pensar em ti, que me enches de força, todos os dias, mesmo naqueles em que me esqueço dos meus lemas de algibeira, olho-te, cheiro-te e ouço-te, fico recuperada, curada e reforçada, pronta para me voltar a sentir imortal
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Curtas
- Estou farta que me peçam para ter paciência, para esperar!
- Há coisas que não consigo desculpar!
- A última coisa que precisava para acabar o dia era que a merda da luz do óleo acendesse!
- Troco este pacote por uma praga de gafanhotos!
- Adoro ouvir-te dormir!!!!!!!
- Há coisas que não consigo desculpar!
- A última coisa que precisava para acabar o dia era que a merda da luz do óleo acendesse!
- Troco este pacote por uma praga de gafanhotos!
- Adoro ouvir-te dormir!!!!!!!
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Viagem
Uma viagem curta, demasiado curta, mas suficiente para incomodar os olhos, não os dela, que estão tranquilos, já viram o que tinham a ver, já conhecem de cor o incómodo dos dele, mas, marotos, não sossegam, olham, provocam, riem, discretamente, de tamanho embaraço, não conseguem deixar de notar a agitação dos dois pontos negros, ora para cima, ora para baixo, o espaço faltava para os lados, e a conversa, forçada, tantas vezes a mesma pergunta, - Estás bem? O dia hoje correu melhor?, tanta preocupação escondida, ele já lhe tinha dito que não foge, que se esconde, era escusado, ela já sabia, e as portas a abrirem-se, já, o desapontamento misturado com a pressa - Até amanhã! Beijinhos!, mais uma vez, a vontade dele de fugir para se esconder, e ela, sem nada para dizer, acha que já disse tudo, deu-se conta de um recuo, pequenino, percebeu, mas fingiu que não, e seguiu caminho, para lhe dar paz, é que a consciência, às vezes, decide fazer das suas, achar-se dela e dar uma de caridosa, tola consciência, porquê?, logo a ela, que conhece de cor as intenções, que não quer saber se são boas ou más, logo a ela que já mandou a sua consciência passear, ir antes falar com a dele, a ela, ali, nada lhe pesa, - Até amanhã! Beijos!, e a calma dela ainda lhe chega para prender um pouco mais os olhos dele, pobres destes olhos, que se querem mascarar de felizes na terça-feira de Carnaval, de que serve, pensa ela, será só por um dia, um dia de mentirinha, ele gostava de mandar em tudo, até nos olhos, e, tentando, vai-se encondendo enquanto pode, ela já lhe disse uma vez - Que triste vida a de quem se esconde com medo dos olhos!, ele ouviu, deve ter concordado, mas confia nos dias, um a seguir ao outro, acredita que os dias lhe vão devolver os olhos, que um dia se vai deixar de esconder, nesse dia, serão os dois mais felizes, ela vai saltar-lhe para o pescoço e ele, irritado, irá perceber que, desta vez, serão as mãos a desobedecer, que corpo maldito, incapaz de respeitar a autoridade, impensável, pensa ele, pensa e decide, antes mesmo de as suas mãos se agarrarrem à cintura dela, já as cordas enrolam os pulsos, os dois bem juntos e atrás das costas, e ela, tranquila, tenta dar-lhe mais um pouco de paz, entrega-lhe o corpo e beija-o na testa, dá-lhe colo - Vai passar!, ele não acredita nela, a sua natureza desconfiada devolve-lhe o medo, ele tem medo dela, só lhe resta voltar a fugir para se esconder, - Até amanhã! Beijinhos!
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Meu
Não é meu, mas é como se fosse, como tu hás-de ser sempre meu, mesmo que não te tenha, é como se te tivesse, e é assim, simplesmente, porque eu quero, basta querer para te ter como eu te tenho, bem guardado, nunca me passaria pela cabeça querer perder-te, vou guardar-te, só porque quero, porque te quero bem guardado, sem vincos, sem pontas, sem nódoas, e consigo, gosto tanto de guardar o que me faz bem, o que nunca me fará mal, o que sempre me saberá bem, guardo-te só por isto, por mais nada, já é tanto
domingo, 27 de janeiro de 2008
sábado, 26 de janeiro de 2008
Personagem
Como nos livros do Lobo, a personagem mais especial, a mais importante para o desfecho da história, sem a qual não se consegue perceber a última página, não está sempre presente, aparece só quando tem que ser, nessa altura, é descrita como nenhuma outra, quem lê fica a conhecê-la tão bem, nunca mais se esquece, mas esta personagem, tão apaixonante, não está sempre presente, às vezes, passa-se tempos em que ela apenas paira, está, mas não faz nada, a história vai continuando, sempre à volta dela, mas como se ela não existisse, às vezes, chega a ser irritante, apetece desistir e fechar o livro, perguntamo-nos porque é que ela nunca mais aparece, se já sabemos que é dela que depende o fim, mas essa fúria acaba por passar, porque as páginas acabam por embalar, por nos mostrar outras vidas, e como não se deixa a meio um livro do Lobo, as folhas viram-se, na expectativa de a encontrar e com a certeza que no final será dela a última página
fdsdm
que fim de semana é este, tenho milhares de caracteres para escrever, à noite, porque a minha filha não tem culpa da loucura da mãe, pelo menos, vou tentar desligar o botão das preocupações durante o dia, mas como, mesmo que compre os jornais e os deixe ficar no saco até o sol se pôr, já sei que me vão entupir de sms e de e-mails, bem, vou tentar muito muito
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Ouvir
Não gosto de pensar no pior, detesto o pessimismo e o miserabilismo, não sou optimista profissional porque não preciso que me paguem, sou e basta, é por isso que não gosto de falar das coisas agrestes, verdadeiramente agrestes, às vezes, penso que só pensar pode ser meio caminho andado para elas acontecerem, e dou por mim a bater na madeira, que ridícula, é esta a minha única superstição, e assim ando há dias, sem conseguir, a pensar em escrever sobre o meu ouvido bloqueado, que mais parece um rádio dessintonizado e me faz sentir um peixe dentro de um aquário, os ãhns, meus e dos outros, de manhã à noite, irritam-me, irrita-me a ideia de poder ficar sem ouvir do lado direito, irrita-me não poder usar o meu iPod e também me irrita não poder ir ao Tóquio sexta-feira, não poder ir patinar no sábado, enfim, ando irritada, e ansiosa também, ainda faltam uns dias para o otorrino me contar o que fez um filho-da-mãe de um vírus ao meu ouvido interno, se o estragou de vez, ou se apenas entupiu de porcaria o tímpano, ouvido, otorrino, vírus, infecção, lesões, para aqui estou eu, mais dada a desconcertar, a falar de coisas tão importantes, não consigo deixar de me sentir tão estranha, tão corriqueira, mas, como diria alguém, a vida é mesmo assim, e nestas alturas, é difícil não ter medo, mas um medo verdadeiro, é que preciso tanto de ouvir, sei que se perder a audição do direito me sobra o esquerdo, mas não seria a mesma coisa, e bato na secretária com os nós dos dedos, e penso que preferia ficar sem o paladar, eu, que me auto-proclamo tão sensitiva, dou por mim a pensar num mal-menor, no menos importante dos meus sentidos, e o medo existe, está cá, mas não, não pode ser, não sei porquê, mas sinto que o que me fecha o ouvido direito é algo muito prosaico, diria mesmo que é merda, que vai acabar, mais cedo ou mais tarde, por sair, como, não sei, pouco me importa, e acredito, deixa-me, que dentro de momentos, recuperarei os meus dois ouvidos, gosto tanto de ouvir
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Linda
Eu nunca choro em público, ouvi-te dizer com os olhos limpos, sim, de facto, puxo pela cabeça e, ao longo destes dois anos, vi-te poucas lágrimas, mesmo triste, de cara fechada, sem aquele sorriso que te torna linda, não te desfazias, ainda há pouco, quando me dizias com orgulho que nunca fraquejavas à frente dos outros, notei os músculos da tua cara mais rijos, senti o esforço, mas os olhos continuavam secos, agora fui buscar as tuas emoções, encontrei palavras, olhos, braços, tempo, mas nada de lágrimas, mas se alguma vez as quiseres deixar cair, posso enxugá-las
Sonho
Acordei a sonhar, alguém me dava a mão e eu deixava, só por segundos, não sei se porque queria ou porque pensava que era a tua, deve ter sido esta última, porque era apenas alguém, não vi a sua cara, e também porque puxei rapidamente a mão e deslizei, acho que tive que contornar outras pessoas que estavam na casa, entrei, agarrei-me a ti, agarrámo-nos à pressa, tu disseste que tinhas que me dizer uma coisa importante, mas que não podia ser naquele momento, não entendi porque nos calámos, estranho, estranho foi quando abri os olhos e vi que não eras tu, o rosto não me era estranho, mas não fazia sentido aquele rosto e não eras tu
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Alívio
Que alívio, o dia chegou ao fim e consegui segurar as palavras, estiveram quase, quase para sair, ainda abri a boca e sussurrei o teu nome, mas depois acabei por fazer de conta que não vi os pontos de interrogação, três ou quatro, que ensaiaste por cima da tua cabeça, já te conheço, fiz tão bem, não foi o que me apetecia, mas o que devia, ainda bem, elas vão ter que sair, são tuas, mas não pode ser já, mais tarde, nem sei quando, nem como, das duas uma, ou saem disparadas e esbarram contra a primeira parede que encontrarem e caem esticadas no chão, ou atiram-se a ti, sem piedade, e nunca se sabe o que podem fazer estas palavras, são pesadas, densas, tão descaradas, depois desta prova, vão continuar guardadas, o mais certo é nem terem que ser ditas, pelo que vejo, já foram lidas, e os teus olhos não param de falar, acho que são eles que pedem as minhas palavras, quando fixam o coração brilhante que tenho ao peito, lembras-te, não é, também eu, não sei como vai ser, mas para já, nada de palavras, o resto que vá falando, desde que não haja gritos, tudo se vai compor, até tu vais conseguir voltar a escrever, ainda não és capaz, e eu sei que isso te deixa triste, que passas os dias e as noites a dormir à espera de sossego, que te custa ler, ouvir música, que pedes ao tempo que passe e não te deixe pensar, olha, espera, tem paciência, vai tudo passar
domingo, 20 de janeiro de 2008
Zangada
Se há coisa que me zanga é o preconceito, o conservantismo, a predisposição para ver o mal onde ele não existe, a desconfiança, a ideia de que se não é essa a prática da maioria, então é porque está errada, não se deve fazer, e o que podem pensar os outros, como se fosse pecado, a verdade absoluta do sermão da missa da manhã, e o que me zanga mais ainda é a teimosia com que, sem qualquer argumento válido, vão matando os impulsos, desencorajando as surpresas e os rasgos de afecto, já percebi que de nada vale o latim, só espero que o tempo não esbarre em muros intransponíveis.
Coisas
Alguém me pode explicar esta moda que não passa dos ganchinhos, sozinhos ou aos pares, às cores, espetados mesmo por cima da testa
Amizade
Abraços, nomes terminados em 'inho' e 'inha', beijos, mimos, colo, massagens, cafunés ou trancinhas, confidências, lágrimas, doces ou amargas, pele, cheiro, atracção, sejam homens ou mulheres, no caso da M., dizemos que gostamos uma da outra, tantas vezes, na passagem-de-ano, brindámos ao facto de uma existir na vida da outra, a D. chora quando me vê triste, com a R. é um agarra-ao-pescoço, o T. beija-me a cabeça quando me vê de rastos ao fim de um dia de trabalho e o Z. já me embalou, eu e os meus amigos não passamos os dias assim, num permanente éden, mas é assim sempre que tem que ser, não percebo a amizade de outra maneira, já conheci pessoas tão interessantes, com quem simpatizei, gostava de conversar com elas, de as ouvir, já me cruzei com gente bem disposta, de quem levei belas gargalhadas, mas, depois, não passava disso, sentia sempre um vidro transparente a separar-nos, que não deixava tocar-nos, não ficámos amigos, não tinha que ser, contava eu isto tudo a um amigo meu quando percebi que a imagem de duas mulheres, ainda que amigas, em abraços coladinhos e colinhos lhe sugeria algo próximo do erótico, percebi, alguns inquéritos feitos, que entre os homens, pelo menos entre alguns, não se passa nada disto, há o aperto-de-mão da praxe, quanto muito o abraço, beijos só ao pai e ao avô, que as confidências são poucas e ficam sempre pela metade e mimos e colo qual quê, tudo mariquices, que estranha forma de viver, tão pouco sensitiva, que ao menos os cinco sentidos sejam bem aproveitados no sexo
sábado, 19 de janeiro de 2008
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Testes
Advanced Global Personality Test Results
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personality test by similarminds.com
C+R+1
Há dias importantes, que marcam, que nunca se esquecem, por boas ou má razões, podem ser mais ou menos, consoante a memória e o gosto de cada um para armazenar calendários, mas há um, apenas um dia, o primeiro dos melhores, em que nos damos conta que tudo mudou e vai continuar a mudar, nesse dia, o coração também percebe que vai passar a esforçar-se muito mais, que vai bater como nunca, expandir de felicidade infinita para logo a seguir reduzir-se a um pinguinho, é assim, a partir desse dia, o primeiro de muitos bons dias, o amor rebenta, que amor grande, até pensamos por onde é que ele andava, será que já existia, só podia, para estourar assim, de repente, e já tão forte, que amor, já tão grande, não pára de crescer, a cada minuto, parece impossível, mas que amor, que nos faz rir, sonhar, voar, construir e esquecer o resto do mundo, só por um bocadinho, não faz mal, é merecido, mas que amor único, que ao mesmo tempo nos faz chorar e ter medo, muito medo, pensar duas, três vezes antes de atravessar a estrada numa passadeira, que raro este amor, que nos faz tremer e ajoelhar para pedir mais dias, é só este primeiro melhor dia de tantos melhores que nos faz querer viver até aos cem anos, só para ter mais melhores dias
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
domingo, 13 de janeiro de 2008
Verdade
Às vezes, dou-me conta que a verdade incomoda, mesmo que seja bonita, sem ponta de maldade, a mais pura das verdades, fico confusa e esforço-me, gostava de perceber porquê, dou voltas e mais voltas e tento encontrar uma explicação, no meio das minhas dúvidas, tenho cada vez mais, penso que pode ser porque existem duas verdades, a de quem diz e a de quem ouve, devem ser diferentes, só podem ser diferentes, outras vezes, acho, também não tenho a certeza, tenho cada vez menos, que não se diz a verdade, que, por bons motivos, vai ficando por dizer, mesmo que seja só bonita e simples, a mais pura das verdades, que estranho, digo eu, para quem a verdade bonita merece sempre ser dita
sábado, 12 de janeiro de 2008
Brilho
Até a pepita do ouro nativo deixa de brilhar se for largada esquecida numa gaveta fechada a sete chaves, fica baça, a cor apaga-se, de pouco serve saber que ela está lá, mas não a espreitar, nem afagar, nem que seja só de vez em quando, não há pedra, por mais preciosa, que resista ao descuido, e como certos tesouros não se doam, nem em testamento, porque mais ninguém os estima, quando se desconfia da sua utilidade, o melhor é mesmo enterrá-los sem demoras, rasgar o mapa em mil pedaços, esquecer de vez o brilho e viver tranquilamente desagarrado das coisas especiais, olhar para um céu e não procurar a estrela mais bonita, nem pensar em roubar a mais cintilante à custa de um buraco no céu, vê-las todas iguais, meros pedaços de lata, parar e apagar para sempre a vocação de garimpeiro, talvez os olhos passem a brilhar
E
Patins em linha, surf, playstation, andamos, eu e outros à minha volta, entretidos com coisas de crianças e de adolescentes, a infantilização dos adultos, empenhados em descobrir a imortalidade, ficando cada vez mais jovens por fora e também por dentro, enquanto isso, as crianças brincam com computadores, telemóveis e descobrem Pessoa antes de lerem Os Cinco, ou Os Sete
Radical IV
Hoje já fiz oitos, descobri e confiei nas protecções e comecei a aprender a cair sem dor, mas continuo a levar completas abadas dos míudos, curti o abre e fecha e detestei o pôr-me de pé
Ai
I hope so (...) não se passa nada de especial (talvez seja isso), ai, que a minha intuição e os teus olhos me dizem que isto não vai ser fácil, o que quero é que te esforces tudo, que tentes até ao fim, as estrelas-cadentes só se vêem quando o céu está limpo
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Gaivotas II
Outra vez, mais uma, a mesma porta, meia dúzia de degraus e o elevador mesmo em frente, tudo igual, vou dar-me conta, o mesmo parapeito de janela e as gaivotas que não descansam, se não me tivesses falado, nem teria dado por elas, lá estarão, talvez voltem a espreitar, tudo na mesma e eu vou sentir tudo tão diferente, não vou gostar, mas vou voltar, faço questão, não quis mudar, não é masoquismo, mas antes a certeza, ai a merda das certezas, mas antes não gostar de escapar, de fingir que não é tudo igual
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Eu
70%-30%, nem mais nem menos, nada de fifty-fifty, duas partes, a primeira pesa bem mais, pode não ser mais importante, mas ocupa mais espaço, conduz, não manda, mas determina, 70% tão bem medidos, com os outros 30%, poderosos, tenho 100% de mim, umas vezes estou em modo 70%, outras em 30%, escolho, vou variando, conforme quero, ou posso, hoje, são 30% em todo o seu esplendor
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
For the kids II
Foi por um triz que hoje não contribuí para aumentar as estatísticas da violência contra os professores, nem de propósito, tinha acabado de ouvir na TSF o testemunho de uma Ana, nome fictício, a contar como lhe tinham arrancado madeixas de cabelo, olhei para uma miúda cheia de certezas e de miúdos de seis anos e, por uns instantes, pensei que não viria daí grande mal ao mundo, mas não fui capaz, tive dúvidas, olhei para a minha filha que, apesar de tudo, se entretinha a mordiscar umas bolachas de água e sal e se tinha contentado com um pedido de desculpas, vi tanta inocência, que não consegui, soltei as lágrimas, agarrei-a, ainda tentei protegê-la da merda das certezas, mas já não fui a tempo, hoje, a minha filha começou a perceber que as certezas são poucas e chegam tarde, hoje, a miúda provou, espero, do amargo das falsas certezas e percebeu, espero, que as verdadeiras são raras e valiosas, que não se desperdiçam, que se vive de dúvidas, começo a ficar enjoada de tantos miúdos e das suas cretinas certezas
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
domingo, 6 de janeiro de 2008
Estrela
Roubar uma estrela, a mais brilhante, para sentir um amor-cego que tira o sono e querê-la só para mim, mesmo que à custa de um buraco no céu, perceber que ela só brilha lá no alto, que cá em baixo não passa de uma peça de lata, perceber que o melhor é conquistá-la, partilhá-la, deixá-la e vê-la a reflectir no meu coração, sempre a cintilar, perceber tudo isto abraçada a ti, no meu colo, ainda me cabes no colo, cheirar-te o pescoço, abraçar-te, ter-te só para mim, sossegada, por uma hora, sossegar-te e dizer-te que não, que ainda não acabou, ouvir-te dizer que, hoje, também vais fazer o mesmo, olhar para céu, descobrir a estrela mais brilhante, tentar roubá-la, mesmo que, mais cedo ou mais tarde, a tenhas que devolver, conformar-me quando me dizes que vais fazer tudo isso sozinha, que não precisas da minha ajuda, precisas cada vez menos, ainda bem, receber uma carta em envelope bem fechado com a tua saliva, ler o meu sonho é estar contigo, ouvir-te dizer eu sou o teu presente para a vida, amar-te até ao infinito do céu, estar feliz e dar-me conta, sentir o coração a brilhar, minha estrela
sábado, 5 de janeiro de 2008
O quê
O desconforto tresanda, os olhos inquietos, a necessidade de dizer, para que fique claro, de falar e ouvir mesmo antes, se possível durante, para nunca esquecer, para aliviar, e as toneladas, que ainda pesam, e o medo, o esforço, a obrigação de disfarçar, e bem, a consciência que não vai ser fácil, um, dois, três, tantos, os dias, e a vontade, boas intenções, bons sentimentos, bons motivos, que podem não chegar, chegam, chegam, e a promessa, nem pensar em falhar, nunca, mas e o risco, sempre a espreitar, o toque, o cheiro, ouvir e falar, nunca esquecer
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Lobo
Nunca consigo resistir ao homem da minha vida. Dia 31 de Dezembro de 2007
Irrito-me com os que se contentam com as tuas crónicas, não sabem o que dizem, é o que é
Irrito-me com os que se contentam com as tuas crónicas, não sabem o que dizem, é o que é
:-(
Quando regressava a casa, cruzei-me com jipes que encostavam depois do cancelamento do Lisboa-Dakar, não me entusiasmo com ralis, as imagens são giras, mas dificilmente me mexeria para ver os carros passar, mas quando me cruzei com os jipes, todos engalanados, limpinhos, a caminho das garagens, imaginei a decepção e a frustração dos pilotos a assistir ao desmoronar de um castelo
Tempo
No dia 25 de Dezembro de 1994, passei pelo Largo e dei por ti, mal encostado ao muro, à porta da farmácia, talvez o sítio te tivesse parecido conveniente, a manhã já ia alta, estavas atirado, não te deves ter mexido deste que aterraste, era a primeira vez que me cruzava contigo, lembro-me do nó na garganta, não era justo, tanto desamparo logo no dia de Natal, nunca mais te deixei de ver, fizeste do Largo e arredores a tua casa, a barba grande, o cabelo também, uns dias mais, outros menos, a garrafa de vidro verde na mão, tantas vezes, outras, uma de plástico transparente cheia de tinto, alguns dias alegre, não sei se apenas à custa do álcool, habituei-me a ti, sempre por ali, muito na tua, imaginei a tua história, não foste parar ao Largo por acaso, hoje, tantos anos depois, voltaste a passar à minha frente enrolado em cobertores, os anos passaram e tu pelas mesmas ruas, a tua casa, o mesmo nó, tanto tempo, o mesmo desamparo
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Good Morning Vietnam
A experiência e a convivência com teimosos-profissionais dizem-me que a maior partida que se pode pregar a um teimoso é dar-lhe logo razão, assentir convictamente, sem hesitar, dizer-lhe que sim, que, sem qualquer dúvida, está absolutamente certo, que nem se pensa mais nisso, é, nestas alturas, que o teimoso costuma parar para pensar, doutra forma, a única coisa que lhe importa é continuar a teimar, insistir na construção que tanto trabalho lhe deu, levar a sua avante, muitas vezes, a um custo alto, mas quando não enfrenta resistência, antes pelo contrário, recebe uma insuspeitável concordância, o teimoso desconfia, duvida e pensa, o que já não é mau, trata-se de uma simples tese, não de uma teima
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Felicidade
A felicidade não ri às gargalhadas. Não se anuncia com fogo de artifício. Não faz estremecer estádios. Raras são as vezes em que nos apercebemos da felicidade no instante em que somos felizes. A felicidade é um espelho nas mãos de um cego.
José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa
Começo
Um começo calmo, seguro, por ti, por nós, pela ânsia de te abraçar e apanhar de beijos, pelo nosso amor até ao infinito do céu, um começo previsto, porque me quero assim, atenta e reforçada, comi os meus desejos, mastiguei-os bem, engoli-os sem pressa, já estão cá dentro, todos ao pé de ti
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